quinta-feira, 8 de março de 2018

A CRIADA


Sabe aqueles filmes em que você assiste e acha que sabe o que se passa na história, mas no fim de tudo acaba se surpreendendo com revelações inesperadas e imprevisíveis? Existem muitos filmes assim, porém, o sul coreano A Criada tem uma diferença que o torna muito especial. A trama é tão bem desenvolvida e separada em três segmentos, onde em cada um deles, mas especificamente nos dois primeiros onde podemos atribuir a seguinte situação para o espectador: “você acha que sabe o que tá acontecendo, contudo, você não sabe é de nada.” A Criada triunfa magistralmente nesse sentido de pegar aqueles que assistem de surpresa, e isso o torna uma produção magnífica, tanto bela excelente história, atuações e estrutura narrativa impecável. Dirigido pelo cineasta Park Chan-wook (mesmo diretor de Oldboy), A Criada é um drama erótico lançado em 2016. Protagonizado por Kim Min-hee, Kim Tae-ri, Ha Jung-woo e Moon So-ri. O filme é baseado no romance galês Fingersmith de Sarah Waters.

A Criada se baseia nos anos 30, durante a ocupação japonesa na província da Coreia (na época em que não era dividida entre sul e norte), onde a jovem Sookee (Kim Tae-ri) é contratada para trabalhar para uma herdeira nipônica, Hideko (Kim Min-hee), que leva uma vida isolada e infeliz ao lado do tio autoritário. Só que Sookee guarda um segredo: ela e um vigarista planejam desposar a herdeira, roubar sua fortuna e trancafiá-la em um sanatório. Tudo ocorre bem de acordo com o plano, porém, Sookee começa aos poucos compreender as motivações de Hideko, e é nessa linha narrativa que o filme caminha durante seu primeiro segmento, e quando chegar ao clímax, revelações surpreendentes vêm à tona.


A Criada é um filme que não brinca com a nossa inteligência e muito menos abusa dela. Pois o modo como Park Chan-wook conduz o filme com talento e sensibilidade, nos dar motivos para compreender cada ponto, e é também nisso que vemos sua singularidade em mostrar a importância de cada cena, cada fala e expressão facial dos personagens. Alguns podem se sentir confusos ao término do primeiro segmento, mas o segundo irá mostrar quase que a mesma situação de antes, porém, com outro ponto de vista e encaixando várias peças que foram deixadas em aberto. E ainda assim, o término do segundo segmento é também surpreendente. Mais uma vez encaixando a situação para quem assiste: “você acha que sabe o que tá acontecendo, contudo, você não sabe é de nada.”

Nessa linha narrativa que predomina o filme todo, sinceramente é impossível dizer que o filme é ruim. Pelo amor do que você acredita, sei inclusive que gosto não se discute, mas dizer que A Criada é um filme ruim, é uma coisa que sinceramente, não dar pra entender, a menos que a pessoa tenha assistido da forma errada. Como dito no inicio desse texto, o triunfo do filme é surpreender, sem abusar da lógica e da capacidade mental que temos de raciocinar as situações. Entendo que na primeira parte podemos ficar confusos, eu fiquei também, no entanto, o restante do filme complementa tudo e não deixa nada, absolutamente nada em aberto. Na primeira vez que o vi, ao terminar me deu vontade de se levantar de onde eu estava sentado e aplaudir. Mas, eu estava sozinho em casa quando assisti. Então me contive em respeito a isso, mas ao mesmo tempo fiquei maravilhado de poder ter visto uma obra-prima gigantesca e para minha maior satisfação, se tratava de uma produção coreana.


O conteúdo do filme é bem misto. Sua narrativa é uma mistura entre abuso autoritário, inclusão de crianças em conteúdos obscenos, lesbianismo, nudez explícita, romance, golpe do baú, torturas, cárcere privado, entre outros fatores que levam o filme ao topo, por abordar cada ponto com precisão e na dosagem certa. Entendemos que no primeiro segmento narrado e visto de acordo com o ponto de visão da criada Sookee, que planejara aplicar um golpe na garota Hideko com a ajuda de um vigarista que finge ser um conde importante. Porém, ao notar a inocência de sua patroa, Sookee vai desenvolvendo afeição por ela, o que mais tarde resulta em um romance entre as duas, e isso acaba por gerar possíveis mudanças em relação ao plano original de roubar a herança da jovem. Mas, como já dito, o final dessa primeira parte foi surpreendente, porém, não irei entrar nos detalhes sobre isso, pois não quero soltar spoilers.

No segundo ato, entendemos a vida de Hideko desde criança, onde na época de sua inocência, ela era obrigada a ler contos pornográficos ao seu tio e outros homens pervertidos que ouviam com prazer e lascívia. E para piorar cada vez mais a vida da jovem, ela sofre maus tratos, principalmente após sua tia se suicidar. Depois que ela cresce, a narrativa vista no primeiro ato ganha espaço novamente só que do ponto de vista da Hikedo, que inclusive narra algumas situações já vistas e também as novas que irão ser uma espécie de complemento daquilo que não entendemos com precisão no primeiro ato, e mais uma vez, o ato termina com um final que nos surpreende. E o terceiro e último ato nos leva a conclusão de tudo que fora visto, desde os absurdos no que diz respeito às atitudes obscenas e egoístas da parte daqueles que fizeram com que a vida de Sookee e Hideko não fizesse nenhum sentido, e como as duas se apaixonam, elas lutam pelo amor que nutrem uma pela outra, e devo afirmar que a conclusão foi mais do que plausível, foi espetacular.


Entretanto, há a necessidade de chamar atenção para as cenas de nudez. Primeiro, é justo elogiar o desempenho das atrizes que conseguiram fazer cenas bem realistas de sexo lésbico, pois compreendemos que tais cenas são difíceis de fazer, inclusive vi entrevistas de alguns atores que tiveram de ficar nus em algumas cenas em que trabalham, e muitos deles afirmaram com grande convicção que simular momentos em que os personagens fazem sexo é muito difícil de fazer, primeiro por que é constrangedor, óbvio, e segundo manter a concentração diante de câmeras e luzes, não é pra qualquer um, nem mesmo atores do ramo pornô dizem que é algo fácil. Portanto, em A Criada tais cenas foram bem trabalhadas e mostraram uma sensualidade incrível.

A segunda coisa a se considerar a respeito disso é que, tais cenas não foram exagero, conforme as menções de alguns críticos, pois a história do filme baseada no livro da autora Sarah Waters, exigia isso, ou vão querer agora contrariar a história original? Além do mais, quando alguém vai assistir ao filme, a pessoa deve ter em mente que se trata de um drama erótico, essas cenas são necessárias e tem uma correlação para tudo no filme. Por isso não reclame se ao longo da projeção, você se deparar com cenas de sexo, ainda mais lésbico. Eu não liguei pra esse detalhe, e em minha opinião, isso não compromete a qualidade e ousadia pela qual o filme caminha durante mais de duas horas de duração.


Como fã do cinema sul coreano, eu procuro entender principalmente a essência de cada produção, e que a respeito disso o gênero em questão faz uma diferença enorme. O drama, por exemplo, é o gênero de filme que mais me encanta. E se uma produção cinematográfica consegue demonstrar atributos como qualidade, simplicidade, emoção e uma trama singular gerada a partir de uma narrativa que não perde ritmo e nem deixa pontas soltas, independente se vai terminar com um final feliz ou triste, eu já saio satisfeito no final. E o filme A Criada se encaixa nisso perfeitamente, e eu jamais irei dizer que me arrependo de ter visto, ao contrário, eu digo com todas as letras que é uma obra-prima, maravilhosamente bem feita e imprevisível e por isso cheia de surpresas.

Se você ainda não viu A Criada, mas pretende conferir o quanto antes, recomendo que esteja ciente de sua proposta e abra a mente para cada situação que ali irá retratar. Não seja preconceituoso e intolerante, mergulhe na trama e sinta cada emoção e pancada que as reviravoltas irão aplicar contra você, mas ao término do filme, provavelmente você irá sair com uma mente mais aberta e madura. Eu me senti assim, e espero que você aprenda o mesmo, pois na vida existem o que é absurdo e o que é tolerável, o que afeta a vida de alguém e o que não afeta, e com isso você consegue diferenciar cada um destes aspectos, colocando-os no devido lugar. 

NOTA: 10/10

Veja o trailer no vídeo abaixo:

5 comentários:

  1. Ainda não conferi, mas está na minha lista.

    Abraço

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  2. esse filme é incrível. surpreendente. muitas camadas. e q belo filme escolheu para postar no dia das mulheres. é um filme sobre o rompimento de abusos feito por homens as mulheres. e exatamente, logo no começo achamos o que é e o q vai ser. além do incrível roteiro, edição e realização, a fotografia é majestosa. bela imagens que escolheu. beijos, pedrita http://mataharie007.blogspot.com.br/2017/11/a-criada.html

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    1. Gostei da sua postagem sobre esse filme Pedrita. Na verdade, eu já tinha escrito essa resenha após ter visto o filme em dezembro do ano passado, mas a guardei para uma ocasião mais oportuna e também fazer algumas modificações importantes ao longo desses últimos meses. Publicar no dia da mulher é sim uma bela homenagem, pois o filme relata a vitória delas perante o machismo e exploração sexual, e assim encontrando o seu devido lugar. E isso vale para todas as mulheres, sejam elas lésbicas ou heterossexuais. E é por isso que eu recomendo esse filme para todos!
      Bjs

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  3. Num entendi foi nada. Me deu foi sono, dormi e quando acordei o filme ainda tava rolando. Muito longo

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    1. Criatura, como é que você quer entender o filme, se você dorme na hora que vai assistir? kkkk

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