É muito importante o debate sobre assuntos que envolvem o bullying e
outros fatores que impedem algumas pessoas de serem aceitas na sociedade. O filme
Extraordinário, título original Wonder, é um tipo de abordagem mista
sobre os efeitos que as pessoas sofrem da sociedade que a descarta de qualquer
convívio ou aproximação. Embora no filme se foque exclusivamente em uma
criança, as atenções que narrativa propõe nos dar uma visão bem mais ampla
sobre as pessoas que o rodeia, no entanto, nenhuma delas possui o mesmo
problema do protagonista.
Lançado em 2017 e dirigido por Stephen Chbosky, Extraordinário é baseado no romance homônimo de R.J. Palacio. Em
seu elenco temos como protagonista o ator mirim Jacob Tremplay, que interpreta August
“Auggie” Pullman, um garoto que tem uma deformidade facial desde que nasceu,
tendo passado por diversas cirurgias. Seus pais são interpretados por Julia Roberts
que traz uma performance fenomenal, e Owen Wilson, que infelizmente não
convence bastante. E Auggie tem uma irmã Via, interpretada por Izabela Vidovic
que ao longo da narrativa vai sendo explorada devido à quebra de aproximação
por parte de sua melhor amiga, Miranda (Danielle Rose Russel).
Podemos afirmar categoricamente que Extraordinário
é um retrato da sociedade preconceituosa que não sabe lidar com as
diferenças, seja agindo como zombador ou por serem incapazes de nutrir
sentimentos como a empatia. Para se ter uma noção do quão realista é esse
filme, vemos inicialmente como vive o pequeno Auggie, que é fã de ciências e do
dia das Bruxas, que estuda em casa com sua mãe. Auggie é um garoto super
inteligente e cheio de entusiasmo, porém, isso se limita apenas com sua
família, já que fora de casa ele costuma usar um capacete de astronauta, como
uma maneira de esconder sua face deformada. Mas, chega um dia em que ele terá
de encarar uma escola, onde terá que conviver com outras crianças, professores
e para isso terá que sair de casa todo dia. E na escola não poderá usar o seu
amigo fiel capacete.
Bem, todos nós já fomos crianças, então não é preciso investigar com
outras pessoas para saber o quão pode ser constrangedor o primeiro dia de aula.
Todos já passamos por isso, e como experiência própria, me recordo muito bem do
meu primeiro dia de aula, embora na época eu não conseguisse discernir muita
coisa, hoje ao lembrar o passado, posso perceber que tal dia foi muito
desafiador, mesmo quando antes estivesse empolgado com isso, mas na hora é que
o aperto se manifesta e faz com que o medo e a vergonha tomem de conta. Imagine
então para quem sofre de alguma doença, deficiência ou deformidade, como é caso
do filme? Para Auggie o primeiro dia de aula pode muito bem ter sido o pior dia
de sua vida. Todos na escola ficavam olhando para ele, e nessas horas que
reação ele poderia demonstrar?
Seus pais sabiam que tal mudança seria bastante desafiador para o
menino, mas não havia outra alternativa a não ser encarar a realidade. E para
ser menos doloroso, a escola ainda pede que três alunos conheçam Auggie antes
das aulas e que o recebessem bem, se tornassem amigos logo ali. O problema é
que um destes alunos é o que mais faz chacota com Auggie, o chamando de
aberração, tirando sarro dele a todo momento, ao contrário do que ele havia
prometido. É o típico aluno chato e mimado. Toda escola e sala de aula tem que
ter alguém assim, é até curioso não é? Por outro lado, há alguns alunos que não
se sentem incomodados com a deficiência de Auggie e tentam se aproximar. É
interessante perceber que após o garoto mostrar sua inteligência na escola,
alguns outros alunos passam a ver além do que se vê por fora, e isso foi de
alguma forma o ponto de partida para sua aceitação, muito embora fossem
acontecer mais provações, algumas delas com efeitos insuportáveis para um menino
da idade de Auggie.
Como dito no inicio desse texto, o filme não se foca unicamente no
pequeno garoto, sua família, mas precisamente sua irmã ganha um destaque especial,
que em contraste com a situação de Auggie, sua irmã Via também enfrenta
problemas pessoais, como o visível rompimento da amizade de sua melhor amiga,
sem explicação ou motivo. Isso faz com que Via se feche para outras pessoas, o
que poderíamos atribuir como uma garota antissocial. Isso é também algo que
afeta a sociedade, a dificuldade de fazer amigos é algo que isola muitos
jovens. No caso de Via, embora o efeito triste gerado pelo distanciamento de
sua amiga não tenha durado muito, é nítido perceber a dificuldade que ela
encontra para conversar com alguém. Principalmente na cena em que um rapaz puxa
assunto com ela a respeito da inscrição para um clube de teatro. Mas, em
contrapartida, ela consegue vê nesse rapaz um meio para compensar a possível
perda de sua melhor amiga.
Com Auggie, a coisa é completamente diferente. Ele é uma criança, e
sabemos como as crianças são pessoas sensíveis que a cada vez que alguém o
magoa, ele se irrita a ponto de querer desistir de continuar na luta para ter
uma vida normal. E é por isso que crianças necessitam de muito apoio para
vencer qualquer obstáculo e no fim de tudo ter sua aceitação na sociedade de
onde convive, que é conquistado através de sua humanidade e persistência, pois
de que adianta em uma luta cair e desistir? A vida já nos ensinou que a vitória
vem após muitas quedas, e essa é uma das coisas mais realistas que predomina em
Extraordinário. A amiga de Via,
Miranda, também tem seus problemas, alguns deles são familiares e o filme a
explora com precisão as dificuldades com o qual ela se encontra, isso é um
forte contraste com o que vemos antes, pois achamos que ela por ser popular era
uma jovem feliz. O filme consegue mostrar com imensa precisão o outro lado da
moeda. E isso é também algo esplêndido! Além disso, é mostrada a convivência
dela com a família de Auggie, e nós espectadores ficamos cientes de cada
situação dos coadjuvantes. Tudo feito através de uma estrutura narrativa
formidável!
Extraordinário é um filme que mexe com nossos sentimentos e
nos dar no final uma importante lição de superação. Quem passa por dificuldades
de encontrar seu lugar na sociedade, pode tirar valiosas dicas de como superar
desafios e a timidez da melhor forma, com apoio genuíno e principalmente com
força de vontade. As atuações do filme são sensacionais, destacando o pequeno Jacob
Tremplay que teve um desempenho emocionante, e Julia Roberts que encarna uma
mãe que faz de tudo para dar o melhor para o filho, mesmo com tantas barreiras
a serem derrubadas. A essência do filme é mostrada a partir de vários aspectos,
entre eles a condição humana e as qualidades que cada um possui, independentemente
de haver defeitos físicos, o que vale de verdade é a motivação e força para
vencer qualquer preconceito que tenha pela frente. Que tremenda lição! Esse é um
filme que ficará marcado por muito tempo na mente de algumas pessoas, e como se
pode perceber, recomenda-lo a uma criança, principalmente aquelas que possuem
dificuldades semelhantes, pode ser algo bastante produtivo.
NOTA: 9/10
Veja o trailer no vídeo abaixo:
Gostei bastante do filme, porém uma ressalva. O filme inteiro é feito para emocionar, tendo um pouco de exagero nos dramas e na facilidade como alguns problemas são resolvidos.
ResponderExcluirAbraço