Cidade de Deus: A Luta Não Para, continuação do icônico filme de 2002, revisita a favela que marcou a história do cinema brasileiro. A série, ambientada vinte anos após os eventos do filme, nos leva de volta à comunidade, onde velhos conhecidos e novos personagens se encontram em uma trama que equilibra resistência, transformação e os desafios de um sistema ainda marcado pela violência.
No
centro da história está Buscapé (Alexandre Rodrigues), agora um fotojornalista
experiente, mas emocionalmente desgastado pela cobertura incessante de
conflitos. Seu olhar, que antes era uma ponte entre o público e a realidade
brutal da favela, agora se torna um reflexo de sua própria luta interna: como
documentar uma realidade que parece inalterada sem perder a esperança de
mudança? Em paralelo, vemos Bradock (Thiago Martins), recém-saído da prisão,
tentando retomar seu lugar no tráfico com a ajuda de Jerusa (Andréia Horta),
sua namorada ambiciosa. Os dois enfrentam Curió (Marcos Palmeira), o atual chefe
do crime, em um confronto que reflete as dinâmicas de poder e sobrevivência da
favela.
O
grande mérito da série é a escolha de ampliar a narrativa além da violência,
oferecendo espaço para a humanidade e a resiliência dos moradores. Aqui, a
comunidade não é apenas um pano de fundo para o crime, mas sim um organismo
vivo, cheio de histórias de luta e esperança. Essa mudança de perspectiva é
especialmente evidente no destaque dado às personagens femininas, que ganham
camadas e complexidade, mostrando sua força tanto dentro quanto fora das
disputas de poder.
Cidade de Deus: A Luta Não Para mantém o estilo dinâmico e vibrante
que marcou o filme original. A câmera está sempre em movimento, capturando a
energia caótica da comunidade. No entanto, a série também dá espaço para
momentos de pausa, nos quais a direção aposta em enquadramentos íntimos que
revelam a vulnerabilidade dos personagens.
As
atuações são outro ponto alto. Alexandre Rodrigues entrega um Buscapé
introspectivo, que luta para encontrar sentido em sua profissão. Thiago Martins
e Andréia Horta são magnéticos como Bradock e Jerusa, trazendo intensidade às
cenas que exploram a ambição e o desejo de retomada. Roberta Rodrigues, como
Berenice, é uma força da natureza, simbolizando a resistência feminina diante
dos desafios diários.
Apesar
de sua qualidade, a série enfrenta o desafio de se afastar da sombra do filme
original. Alguns momentos parecem depender demais da nostalgia, e certas
subtramas poderiam ter sido melhor desenvolvidas para dar mais profundidade à
história. Ainda assim, a escolha de focar na vida ao invés da morte dá um
frescor à narrativa, tornando-a relevante e necessária.
Cidade de Deus: A Luta Não Para é mais do que uma continuação; é um olhar renovado sobre uma comunidade que, apesar das adversidades, continua resistindo. Ao equilibrar tensão e humanidade, a série oferece um retrato mais completo da favela, ampliando as histórias de seus moradores sem perder a essência que fez do filme original um marco. Um convite para refletir sobre as lutas que não param e os sonhos que persistem.
NOTA: 7,6/10
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