terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

FARRAPO HUMANO

 


Dirigido por Billy Wilder e baseado no romance homônimo de Charles R. Jackson, Farrapo Humano é um dos primeiros filmes a tratar o alcoolismo de maneira séria e realista, rompendo com os estigmas do período. Com uma abordagem corajosa e inovadora para sua época, o longa se tornou um marco no cinema, conquistando quatro Oscars, incluindo Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator e Melhor Roteiro. 

A trama acompanha Don Birnam (Ray Milland), um escritor fracassado e alcoólatra, enquanto ele enfrenta um final de semana devastador em Nova York. Don tenta desesperadamente obter álcool, enquanto lida com a rejeição social, o colapso de suas relações pessoais e o confronto com seus próprios demônios internos. O filme alterna entre flashbacks de seu passado promissor e os eventos sombrios de seu presente, criando um retrato profundamente humano e angustiante.

Ray Milland entrega uma das atuações mais impactantes de sua carreira. Seu retrato de Don Birnam é visceral, autêntico e devastador, capturando tanto o charme manipulado por Don para obter simpatia quanto a dor crua de sua batalha interna. Milland evita caricaturas, permitindo que o público compreenda a complexidade do personagem – sua vergonha, seus fracassos e suas esperanças despedaçadas.

A direção de Billy Wilder é magistral, utilizando sombras, enquadramentos apertados e trilha sonora para criar uma atmosfera sufocante. A música de Miklós Rózsa, especialmente com o uso do theremin, sublinha o estado mental frágil de Don, imergindo o espectador em sua paranoia e desespero. A cinematografia de John F. Seitz reflete a jornada emocional do protagonista, alternando entre o realismo sombrio e momentos quase expressionistas que intensificam o impacto psicológico.

O roteiro é outro ponto forte, com diálogos afiados que exploram as dimensões psicológicas do alcoolismo. Em vez de condenar Don, o filme humaniza sua luta, revelando como o vício é tanto uma doença quanto um sintoma de traumas mais profundos. Ao mesmo tempo, o roteiro aborda a maneira como a sociedade trata os dependentes, expondo preconceitos e falta de compreensão.

O final que sugere uma redenção abrupta, pode parecer otimista demais em relação à complexidade do alcoolismo, especialmente considerando o tom sombrio do restante da narrativa. No entanto, essa escolha provavelmente reflete a necessidade de atender às expectativas do público e do código moral vigente na época.

Farrapo Humano é um filme essencial, não apenas por sua relevância histórica, mas também por sua coragem em abordar um tema tabu de forma tão honesta. Com uma combinação de direção visionária, atuação poderosa e uma narrativa profundamente envolvente, o longa transcende seu tempo e permanece uma obra de arte impactante e atemporal.

NOTA: 9,5/10

Um comentário:

  1. é um filme difícil de ver. tb vi. o nome no brasil q é péssimo pra variar. comentei aqui https://mataharie007.blogspot.com/2014/03/farrapo-humano.html

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