Dirigido por Mike Flanagan e baseado no romance homônimo de Stephen King, Jogo Perigoso é uma obra que mistura suspense com terror psicológico. O filme oferece uma experiência claustrofóbica e intensa, sustentada por atuações marcantes e uma narrativa que explora traumas e resiliência.
A
trama começa com Jessie (Carla Gugino) e Gerald (Bruce Greenwood), um casal que
tenta reacender a chama do casamento em uma casa de campo isolada. Durante um
jogo sexual, Gerald algema Jessie à cama, mas sofre um ataque cardíaco fatal,
deixando-a sozinha, vulnerável e imobilizada. O que inicialmente parece ser uma
luta física para escapar logo se transforma em uma jornada mental, à medida que
Jessie enfrenta seus demônios interiores e lida com memórias reprimidas.
Mike
Flanagan transforma um cenário limitado — um quarto isolado — em um palco de
tensão quase insuportável. O uso de alucinações e diálogos internos amplia o
escopo narrativo, permitindo ao espectador explorar as profundezas da mente de
Jessie enquanto ela luta para sobreviver. O ritmo é deliberado, com momentos de
introspecção cuidadosamente intercalados por sustos e revelações perturbadoras.
Carla
Gugino entrega uma performance impecável, carregando o peso emocional do filme
com uma mistura de fragilidade e força. Sua interpretação captura as nuances de
uma mulher presa fisicamente e emocionalmente, tornando a jornada de Jessie
visceral e envolvente. Bruce Greenwood também impressiona em um papel
desafiador, oscilando entre um marido controlador e uma figura alucinatória
perturbadora.
Jogo Perigoso
vai além do terror convencional, explorando temas como abuso, repressão e
autodescoberta. O trauma de infância de Jessie, revelado em flashbacks,
adiciona camadas de profundidade à narrativa, mostrando como o passado pode
aprisionar tanto quanto correntes físicas. O filme também aborda a força
necessária para confrontar os próprios medos e encontrar liberdade, mesmo nas
circunstâncias mais desesperadoras.
A
fotografia contribui para a atmosfera opressiva, com enquadramentos que
acentuam o isolamento e a vulnerabilidade da protagonista. A trilha sonora é
sutil, mas eficaz, amplificando momentos de tensão sem nunca se sobrepor à
narrativa. A maquiagem merece destaque, especialmente em cenas mais gráficas,
que adicionam realismo à luta de Jessie.
Embora
o filme seja impressionante na maior parte de sua duração, o desfecho pode
parecer apressado e um tanto didático, especialmente em relação à resolução dos
conflitos. A introdução de um elemento quase sobrenatural no terceiro ato pode
dividir opiniões, desviando o foco da narrativa psicológica para um desfecho
mais explicativo.
Jogo Perigoso é uma adaptação corajosa e bem-sucedida de um material literário desafiador. Com uma protagonista poderosa, uma direção inspirada e uma abordagem madura de temas complexos, o filme é uma experiência que ressoa emocionalmente e desafia o espectador a confrontar seus próprios medos. Apesar de alguns deslizes no final, a obra se destaca como um exemplo de como o terror pode ser usado para explorar a psique humana.
NOTA: 8/10
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