terça-feira, 4 de fevereiro de 2025

ALICE ADAMS - 1935

 


Baseado no romance de Booth Tarkington, Alice Adams, dirigido por George Stevens, é uma obra marcante que explora as complexidades do status social, das aspirações individuais e das relações familiares em uma pequena cidade americana. Com Katherine Hepburn em uma performance magnética no papel-título, o filme equilibra com habilidade humor, drama e crítica social, estabelecendo-se como um dos melhores exemplos do cinema de sua época. 

A trama gira em torno de Alice Adams, uma jovem de origem humilde que sonha em ascender socialmente e conquistar um lugar entre a elite da cidade. Apesar de suas limitações financeiras, Alice se esforça para parecer sofisticada e impressionar Arthur Russell (Fred MacMurray), um homem de classe alta por quem se apaixona. O filme revela as tensões entre as aparências que Alice tenta manter e as realidades de sua situação familiar, especialmente com a personalidade resignada de seu pai e a ambição da mãe.

George Stevens demonstra sua habilidade em criar uma narrativa intimista, trazendo à tona as emoções contidas nos gestos e silêncios. A direção constrói uma atmosfera que oscila entre o desconforto e a ternura, especialmente em momentos-chave, como o jantar na casa dos Adams — uma cena tanto cômica quanto profundamente constrangedora.

Katharine Hepburn é o coração do filme. Sua Alice é simultaneamente ingênua, determinada e vulnerável, uma personagem multifacetada que gera empatia mesmo em seus momentos mais equivocados. Fred MacMurray desempenha bem o papel do interesse amoroso, trazendo leveza e gentileza à trama, embora o roteiro não lhe dê a mesma profundidade que à protagonista.

Alice Adams aborda questões relevantes sobre classe social e o peso das aparências na sociedade americana dos anos 1930. O desejo de Alice por aceitação e pertencimento é universal, mas o filme também critica as pressões impostas por um sistema que valoriza mais o status do que a autenticidade. Essa crítica é reforçada pela dinâmica familiar, especialmente pelo conflito entre o idealismo da mãe de Alice e o pragmatismo do pai.

O forte do filme é a sua sensibilidade na abordagem dos dilemas de Alice, uma jovem presa entre suas aspirações e a realidade. As atuações, especialmente de Hepburn, são cativantes, e a direção de Stevens equilibra habilmente o drama e o humor. No entanto, o final otimista, embora satisfatório para o público da época, parece um tanto apressado e um pouco desconectado da profundidade das questões sociais exploradas anteriormente. A transição da tensão para a resolução romântica deixa de explorar plenamente as nuances do enredo.

Alice Adams é uma joia do cinema clássico, sustentada por uma atuação brilhante de Katharine Hepburn e uma direção que sabe dosar delicadeza e crítica social. Embora não explore todas as suas temáticas com a profundidade desejada, o filme permanece um retrato atemporal das aspirações humanas e das pressões sociais. 

NOTA: 7,7/10

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