domingo, 3 de agosto de 2025

TUDO BEM NÃO SER NORMAL

Tudo Bem Não Ser Normal é um drama sul-coreano da Netflix que combina romance, trauma e saúde mental de maneira poética e sensível. A história gira em torno de Moon Gang-tae, um cuidador que vive em função do irmão autista, Moon Sang-tae. Suas vidas mudam quando conhecem Ko Moon-young, uma escritora famosa e excêntrica que sofre de transtorno de personalidade antissocial. A partir desse encontro, os três embarcam em um processo profundo de cura emocional.

A série se destaca por tratar de temas delicados, como transtornos mentais, traumas de infância, abandono, luto e afeto, sem recorrer a estereótipos ou soluções fáceis. Ao contrário de muitas produções que romantizam ou caricaturam a saúde mental, aqui há um esforço real de mostrar a complexidade de cada personagem. A mensagem principal é clara: todos carregam cicatrizes e isso não nos torna menos dignos de amor ou compreensão.

Visualmente, o drama é impressionante. A estética remete a contos de fadas sombrios, com cenas que mais parecem pinturas em movimento. As histórias infantis criadas por Moon-young servem como metáforas emocionais dos conflitos vividos pelos personagens, e a trilha sonora melancólica intensifica ainda mais essa atmosfera mágica e dolorosa.

As atuações são um dos pontos mais fortes da série. Kim Soo-hyun entrega uma performance contida e comovente como Gang-tae, Seo Ye-ji dá vida a uma mulher intensa e ferida, e Oh Jung-se emociona com uma das representações mais humanas e respeitosas do autismo já vistas na televisão. Os três formam um trio inusitado que aos poucos se torna uma família — não por laços de sangue, mas por escolha e empatia.

Outro aspecto que merece destaque é a maneira como a série equilibra dor e leveza. Há cenas pesadas, marcadas por memórias traumáticas e feridas emocionais profundas, mas também há momentos de humor sutil, ternura e descobertas. A relação entre os irmãos, os conflitos internos de Moon-young e os momentos de afeto entre os protagonistas mostram que o processo de cura é gradual, cheio de altos e baixos, e que o apoio mútuo é essencial.

Além disso, a série critica, de forma delicada, o estigma social em torno da saúde mental, da diferença e do sofrimento psíquico. Mostra como a sociedade tenta “corrigir” o que não entende e como o silêncio e a repressão emocional acabam criando adultos feridos, desconectados de si mesmos. Ao reconhecer isso, o drama convida o espectador a olhar para a própria história e entender que buscar ajuda ou mostrar fragilidade não é fraqueza — é um passo importante para viver de forma mais plena.

Tudo Bem Não Ser Normal não é apenas uma história de amor, mas também uma jornada sobre aceitação, perdão e reconstrução pessoal. É uma série que abraça as imperfeições humanas e mostra que, por trás de cada comportamento estranho ou defensivo, há uma dor não resolvida pedindo cuidado. Tocante, profunda e esteticamente bela, é um drama que permanece com o espectador mesmo depois de terminado. 

NOTA: 9/10

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