sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025

A ONDA - 2015

O cinema de desastre é um gênero que frequentemente opta por narrativas previsíveis e efeitos especiais chamativos para prender o espectador. No entanto, o filme norueguês A Onda (Bølgen), dirigido por Roar Uthaug, apresenta uma abordagem mais intimista e realista, provando que é possível equilibrar tensão com profundidade emocional. Inspirado em fatos reais e na geografia peculiar dos fiordes noruegueses, o longa utiliza sua ambientação como um personagem vivo e ameaçador, diferenciando-se de produções hollywoodianas do mesmo gênero.

A história gira em torno do geólogo Kristian Eikjord (Kristoffer Joner), que está prestes a se mudar de Geiranger com sua família. No entanto, sua última tarefa no trabalho revela sinais de instabilidade geológica, indicando um possível colapso de uma montanha que pode gerar um tsunami devastador. A partir daí, o filme mistura drama familiar e suspense, criando uma narrativa que prende a atenção do início ao fim.

Um dos méritos de A Onda é a construção de personagens que fogem ao estereótipo raso. Kristian não é apenas um herói que "salva o dia"; ele é um pai e marido vulnerável, lidando com dilemas reais e dúvidas. A atuação de Kristoffer Joner é convincente, capturando tanto a angústia quanto a determinação do protagonista. Ane Dahl Torp, no papel de Idun, esposa de Kristian, entrega uma performance igualmente sólida, reforçando o núcleo familiar como elemento central do filme.

O filme impressiona com seus efeitos visuais. Embora o orçamento seja limitado em comparação a produções norte-americanas, tais efeitos são eficazes e complementam a narrativa sem apelar ao absurdo. A cena do tsunami é especialmente bem realizada, com uma combinação de tensão crescente, realismo e impacto emocional.

O roteiro, no entanto, contém pequenos tropeços. Algumas decisões dos personagens em momentos críticos podem parecer convenientes demais ou frustrantes para o público mais exigente. Além disso, o terceiro ato, focado na sobrevivência e no resgate, perde um pouco da energia inicial ao repetir certos clichês do gênero.

Por outro lado, a escolha de abordar um desastre natural realista, em vez de uma catástrofe exagerada e fictícia, dá ao filme um peso maior. A geografia dos fiordes, retratada de maneira quase documental, é uma lembrança constante da vulnerabilidade humana diante da natureza. A direção de Uthaug se destaca ao manter um equilíbrio entre a grandiosidade do desastre e os dramas individuais, reforçando a conexão do público com a história.

A Onda não busca reinventar o gênero, mas traz uma perspectiva genuína e focada em personagens, o que é raro em filmes de desastre. Sua combinação de atuações fortes, efeitos visuais competentes e uma narrativa emocionalmente atraente, resulta em uma obra que não apenas entretém, mas também provoca reflexões sobre o impacto da natureza e a resiliência humana. É um filme que merece ser lembrado como uma adição de qualidade a um gênero muitas vezes subestimado.

Nota: 7,5/10

Nenhum comentário:

Postar um comentário