O cinema de desastre é um gênero que frequentemente opta por narrativas previsíveis e efeitos especiais chamativos para prender o espectador. No entanto, o filme norueguês A Onda (Bølgen), dirigido por Roar Uthaug, apresenta uma abordagem mais intimista e realista, provando que é possível equilibrar tensão com profundidade emocional. Inspirado em fatos reais e na geografia peculiar dos fiordes noruegueses, o longa utiliza sua ambientação como um personagem vivo e ameaçador, diferenciando-se de produções hollywoodianas do mesmo gênero.
A história
gira em torno do geólogo Kristian Eikjord (Kristoffer Joner), que está prestes
a se mudar de Geiranger com sua família. No entanto, sua última tarefa no
trabalho revela sinais de instabilidade geológica, indicando um possível
colapso de uma montanha que pode gerar um tsunami devastador. A partir daí, o
filme mistura drama familiar e suspense, criando uma narrativa que prende a
atenção do início ao fim.
Um dos
méritos de A Onda é a construção de personagens que fogem ao estereótipo
raso. Kristian não é apenas um herói que "salva o dia"; ele é um pai
e marido vulnerável, lidando com dilemas reais e dúvidas. A atuação de
Kristoffer Joner é convincente, capturando tanto a angústia quanto a
determinação do protagonista. Ane Dahl Torp, no papel de Idun, esposa de
Kristian, entrega uma performance igualmente sólida, reforçando o núcleo
familiar como elemento central do filme.
O filme
impressiona com seus efeitos visuais. Embora o orçamento seja limitado em
comparação a produções norte-americanas, tais efeitos são eficazes e
complementam a narrativa sem apelar ao absurdo. A cena do tsunami é
especialmente bem realizada, com uma combinação de tensão crescente, realismo e
impacto emocional.
O roteiro,
no entanto, contém pequenos tropeços. Algumas decisões dos personagens em
momentos críticos podem parecer convenientes demais ou frustrantes para o
público mais exigente. Além disso, o terceiro ato, focado na sobrevivência e no
resgate, perde um pouco da energia inicial ao repetir certos clichês do gênero.
Por outro
lado, a escolha de abordar um desastre natural realista, em vez de uma
catástrofe exagerada e fictícia, dá ao filme um peso maior. A geografia dos
fiordes, retratada de maneira quase documental, é uma lembrança constante da
vulnerabilidade humana diante da natureza. A direção de Uthaug se destaca ao
manter um equilíbrio entre a grandiosidade do desastre e os dramas individuais,
reforçando a conexão do público com a história.
A Onda não busca reinventar o gênero, mas traz uma perspectiva genuína e
focada em personagens, o que é raro em filmes de desastre. Sua combinação de
atuações fortes, efeitos visuais competentes e uma narrativa emocionalmente atraente,
resulta em uma obra que não apenas entretém, mas também provoca reflexões sobre
o impacto da natureza e a resiliência humana. É um filme que merece ser
lembrado como uma adição de qualidade a um gênero muitas vezes subestimado.
Nota: 7,5/10
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