sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

DOIS PAPAS

 

Lançado em 2019, Dois Papas, dirigido por Fernando Meirelles e roteirizado por Anthony McCarten, é um filme que transita entre o drama e o humor ao explorar um encontro fictício entre duas das figuras mais importantes da Igreja Católica: o Papa Bento XVI (Anthony Hopkins) e o então cardeal Jorge Bergoglio (Jonathan Pryce), futuro Papa Francisco.

A história é ambientada em um momento de crise dentro da Igreja, marcada por escândalos de corrupção, abusos e perda de fiéis. O roteiro se concentra em um diálogo imaginado entre os dois líderes, cada um representando visões opostas da fé e do papel da instituição no mundo moderno. Bento XVI é conservador, erudito e reservado, enquanto Bergoglio é pragmático, acessível e preocupado em aproximar a Igreja dos marginalizados.

A força do filme está em suas atuações. Anthony Hopkins e Jonathan Pryce entregam performances brilhantes, com uma química cativante que torna os debates teológicos e filosóficos dinâmicos e acessíveis. Hopkins retrata Bento XVI como um homem rígido, mas profundamente humano, marcado por dúvidas e uma sensação de inadequação. Pryce, por sua vez, encarna Bergoglio com carisma e um humor afável, equilibrando leveza e introspecção.

O roteiro equilibra temas complexos com um tom quase confessional, mesclando momentos históricos e passagens fictícias para humanizar os personagens. A transição entre passado e presente, incluindo flashbacks que exploram o passado controverso de Bergoglio durante a ditadura militar na Argentina, adiciona camadas emocionais à narrativa. No entanto, alguns críticos podem considerar que a abordagem simplifica questões profundas, transformando debates teológicos em diálogos excessivamente didáticos.

Visualmente, Meirelles utiliza locações reais, como o Vaticano e a Capela Sistina, para criar uma sensação de autenticidade. A direção de fotografia de César Charlone adota cores vibrantes e ângulos inovadores que refletem tanto a grandiosidade quanto a intimidade do tema. A trilha sonora, que alterna entre música clássica e tango, também é um destaque, simbolizando o contraste entre os dois. Embora Dois Papas seja, em sua essência, uma obra de ficção, ele levanta questões reais sobre tradição, mudança e as responsabilidades morais de líderes religiosos. A forma como o filme aborda esses temas pode ser vista como instigante, mas também como superficial em certos momentos, especialmente ao lidar com os escândalos da Igreja.

Ainda assim, o filme é um retrato caloroso e empático de duas personalidades opostas que, apesar de suas diferenças, encontram pontos de convergência. Ele convida o público a refletir sobre o papel da fé no mundo contemporâneo, sem impor respostas definitivas. O filme é sustentado por atuações memoráveis e diálogos instigantes, que oferece uma perspectiva única sobre o conflito entre tradição e renovação. Um convite ao diálogo que ressoa tanto dentro quanto fora das paredes da Igreja. 

NOTA: 6,5/10

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