segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

VAMOS À AMÉRICA

 

Vamos à América (Ruggles of Red Gap), de 1935, é uma deliciosa comédia dirigida por Leo McCarey, baseada no romance homônimo de Harry Leon Wilson. Estrelado por Charles Laughton, o filme equilibra habilmente humor refinado e uma reflexão sobre a individualidade e os ideais democráticos americanos. Foi indicado ao Oscar de Melhor Filme. Embora não tenha vencido, a indicação ao Oscar destaca o reconhecimento da crítica pela habilidade de McCarey em combinar comédia e drama de forma magistral.

A trama acompanha Ruggles (Charles Laughton), um mordomo britânico dedicado que, em um jogo de pôquer, é "ganho" pelos novos patrões americanos, Egbert e Effie Floud (interpretados por Charles Ruggles e Mary Boland). Ele é levado contra sua vontade para o selvagem oeste americano, onde seu senso de ordem e etiqueta aristocrática colide com a cultura descontraída e democrática dos Estados Unidos.

O coração do filme está na performance de Charles Laughton, que surpreende ao trazer vulnerabilidade e humor sutil a um personagem que facilmente poderia ter se tornado uma caricatura. Sua jornada de autodescoberta é tocante e cômica, especialmente nas cenas em que ele interage com os excêntricos habitantes da pequena cidade de Red Gap.

Leo McCarey dirige com uma sensibilidade que equilibra o humor satírico com momentos de introspecção. Uma cena marcante é quando Ruggles recita o famoso "Discurso de Gettysburg" de Abraham Lincoln, um momento de impacto emocional que transcende o tom leve do restante do filme.

Além disso, o roteiro satiriza tanto os excessos da aristocracia europeia quanto os caprichos da classe média americana, proporcionando uma visão bem-humorada, mas perspicaz, sobre o choque cultural. Embora encantador em sua essência, o ritmo do filme pode parecer lento para os padrões modernos. Algumas piadas dependem de referências culturais da época, o que pode dificultar a apreciação total por um público contemporâneo. Além disso, o desenvolvimento de personagens secundários, como Effie e Egbert, às vezes são esquecidos pela narrativa principal, deixando de explorar todo o potencial das situações cômicas que eles poderiam oferecer.

Vamos à América é um filme que combina comédia inteligente, comentários sociais e atuações memoráveis para criar uma obra atemporal. Ele nos lembra do poder transformador da individualidade e da liberdade, ao mesmo tempo em que celebra a capacidade de adaptação e o choque de culturas. Uma verdadeira joia resgatada do cinema clássico, recomendada tanto para entusiastas do gênero quanto para aqueles que buscam histórias com coração e humor. 

NOTA: 8/10

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