Dirigido por Kleber Mendonça Filho, Aquarius é um drama brasileiro que combina intimismo e crítica social para contar a história de Clara, uma jornalista aposentada e viúva interpretada de forma brilhante por Sônia Braga. O filme é um retrato de resistência e memória, ambientado em Recife, e explora temas como gentrificação, envelhecimento e autonomia feminina.
Clara vive
no edifício Aquarius, um prédio antigo à beira-mar, que se tornou alvo de uma
construtora interessada em demoli-lo para erguer um empreendimento luxuoso. Ela
é a última residente do local, enfrentando pressões cada vez mais agressivas
para abandonar seu apartamento. No entanto, sua ligação emocional com o espaço
transcende o valor material, representando não apenas memórias pessoais, mas
também um símbolo de luta contra a especulação imobiliária e a padronização
urbana.
Sônia Braga
oferece uma performance magistral, transmitindo com sutileza e força as camadas
da personagem. Clara é uma mulher complexa, ao mesmo tempo vulnerável e
determinada, cuja história de vida é revelada através de pequenas interações e
lembranças. A força de Braga está em sua capacidade de expressar emoções
profundas com gestos contidos, tornando Clara uma figura extremamente humana e
identificável.
A direção de
Kleber Mendonça Filho é cuidadosa e detalhista, usando a arquitetura do
edifício e seus arredores para construir a narrativa. Cada espaço do
apartamento de Clara é preenchido com objetos que contam histórias, reforçando
o peso emocional do lugar. A trilha sonora, que mistura clássicos da MPB e
canções internacionais, complementa a narrativa ao refletir as fases da vida de
Clara e sua relação com o passado.
A crítica
social de Aquarius é afiada, mas nunca didática. O filme aborda questões
como desigualdade social, abuso de poder e o impacto do capitalismo sobre o
indivíduo e o coletivo. Esses temas emergem organicamente da trama, sem desviar
o foco da jornada pessoal de Clara. Essa combinação de micro e macro narrativas
torna o filme não apenas um estudo de personagem, mas também um comentário
sobre a sociedade brasileira contemporânea. Embora sua duração de 2 horas e 25
minutos possa parecer longa, o ritmo é sustentado pela riqueza de detalhes e
pela construção cuidadosa dos personagens e do ambiente. Algumas sequências, no
entanto, poderiam ter sido enxugadas para evitar uma leve sensação de
repetição.
Aquarius é uma obra profundamente humana, que encontra força na resistência cotidiana de sua protagonista. É um filme que ressoa em diferentes níveis, seja como uma história pessoal de luta, seja como um espelho das tensões sociais e políticas do Brasil. Kleber Mendonça Filho e Sônia Braga entregam uma experiência cinematográfica memorável, reafirmando o papel do cinema como espaço para reflexão e transformação.
NOTA: 8,5/10
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