domingo, 26 de janeiro de 2025

3 FACES

 

Dirigido por Jafar Panahi, 3 Faces é uma obra que combina habilmente realidade e ficção, trazendo à tona questões sociais e culturais no Irã contemporâneo. O filme segue Panahi e a atriz Behnaz Jafari, interpretando a si mesmos, em uma jornada para investigar o suposto suicídio de uma jovem aspirante a atriz, que deixou um vídeo perturbador pedindo ajuda. A narrativa se desenrola em vilarejos remotos, onde tradições e normas patriarcais desafiam o progresso pessoal e artístico. 

O roteiro é aparentemente simples, mas se desdobra em camadas de significados. A viagem de Panahi e Jafari para localizar a jovem não é apenas uma busca literal, mas uma exploração da liberdade de expressão e dos desafios enfrentados por mulheres em uma sociedade conservadora. A relação entre as "três faces" – a jovem, a atriz veterana e a idosa reclusa mencionada indiretamente – simboliza diferentes gerações e perspectivas sobre o papel da mulher no cinema e na sociedade.

Panahi adota um estilo minimalista, com longos planos-sequência e composições naturais que capturam a beleza austera das paisagens rurais. A direção evita sentimentalismos e favorece um tom contemplativo, convidando o espectador a observar as nuances das interações humanas e os conflitos culturais subjacentes.

Behnaz Jafari entrega uma performance autêntica e sensível, equilibrando indignação e empatia ao longo de sua jornada. Panahi, como de costume, é uma presença discreta, servindo mais como observador do que como protagonista ativo. Esse estilo reforça a verossimilhança do filme e a sensação de que estamos testemunhando uma história real.

3 Faces é uma reflexão pungente sobre a tensão entre tradição e modernidade. Embora o filme aborde temas importantes com delicadeza, sua abordagem lenta e contemplativa pode afastar espectadores que busquem um ritmo mais dinâmico. Em algumas partes, o enredo parece hesitar em avançar, optando por um realismo que, embora poderoso, pode ser exaustivo para alguns.

Com 3 Faces, Panahi reafirma sua habilidade de transformar narrativas pessoais em comentários universais. O filme é tanto um grito de resistência quanto uma celebração da complexidade cultural iraniana. Apesar de sua progressão deliberada, é uma obra que merece atenção, especialmente para aqueles interessados em cinema que desafia convenções e abraça o humanismo. 

NOTA: 8,3/10

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