Dirigido por Antonio Campos, O Diabo de Cada Dia é uma obra densa e sombria que explora as profundezas da natureza humana em um cenário marcado por violência, religiosidade obsessiva e desesperança. O filme, ambientado no período pós-Segunda Guerra Mundial, entre Ohio e Virgínia Ocidental, constrói uma narrativa intricada repleta de personagens interligados por tragédias, segredos e escolhas morais perturbadoras.
A
trama gira em torno de Arvin Russell (Tom Holland), um jovem cuja vida é
moldada pela violência e pelos traumas herdados de sua família. Desde o
suicídio de seu pai (Bill Skarsgård), após um ato de fanatismo religioso, até
os encontros com figuras sinistras, como o casal de serial killers Carl (Jason
Clarke) e Sandy (Riley Keough) e o pastor manipulador Preston Teagardin (Robert
Pattinson), Arvin tenta navegar em um mundo onde a moralidade é constantemente
questionada.
A
história aborda temas como hipocrisia religiosa, ciclos de violência e a luta
pela sobrevivência em um ambiente moralmente corrupto. A interseção entre fé e
perversidade é central à narrativa, mostrando como a religiosidade mal
direcionada pode ser usada como justificativa para atos terríveis.
Antonio
Campos cria uma atmosfera sufocante, com uma direção que enfatiza a tensão e o
peso emocional de cada cena. O ritmo é deliberadamente lento, permitindo que a
violência e os dilemas morais ressoem profundamente. A cinematografia é sombria
e melancólica, refletindo o estado emocional dos personagens e o ambiente
opressivo em que vivem. O uso da narração, feita pelo próprio autor do livro,
Donald Ray Pollock, adiciona um toque literário ao filme, mas em alguns
momentos parece subestimar a capacidade do público de interpretar a história
por si só.
O
elenco é um dos grandes trunfos do filme. Tom Holland entrega uma performance
impressionante como Arvin, mostrando uma maturidade que vai além de seus papéis
anteriores. Robert Pattinson rouba a cena como o pastor Teagardin, com uma
interpretação carismática e repulsiva que encapsula perfeitamente a hipocrisia
de sua personagem. Bill Skarsgård, Jason Clarke e Riley Keough também se
destacam, trazendo camadas de complexidade a seus papéis perturbadores.
A
principal força de O Diabo
de Cada Dia está na construção de sua atmosfera e no
comprometimento de seu elenco. No entanto, a narrativa entrelaçada e cheia de
personagens pode parecer excessivamente fragmentada e, em alguns momentos,
perde força ao tentar conectar todas as subtramas. Além disso, a violência gráfica,
embora justificada pelo contexto, pode ser excessiva para alguns espectadores,
contribuindo para a sensação de desesperança que permeia o filme.
O Diabo de Cada Dia é uma obra intensa e provocativa, que oferece uma visão brutal da luta entre o bem e o mal em um mundo marcado pela corrupção moral. Embora não seja uma experiência fácil ou agradável, o filme é uma exploração poderosa de temas universais, com atuações marcantes e uma direção atmosférica. Para aqueles que apreciam dramas sombrios e psicológicos, é uma recomendação obrigatória.
NOTA: 7,8/10
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