segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

O DIABO DE CADA DIA

 

Dirigido por Antonio Campos, O Diabo de Cada Dia é uma obra densa e sombria que explora as profundezas da natureza humana em um cenário marcado por violência, religiosidade obsessiva e desesperança. O filme, ambientado no período pós-Segunda Guerra Mundial, entre Ohio e Virgínia Ocidental, constrói uma narrativa intricada repleta de personagens interligados por tragédias, segredos e escolhas morais perturbadoras.

A trama gira em torno de Arvin Russell (Tom Holland), um jovem cuja vida é moldada pela violência e pelos traumas herdados de sua família. Desde o suicídio de seu pai (Bill Skarsgård), após um ato de fanatismo religioso, até os encontros com figuras sinistras, como o casal de serial killers Carl (Jason Clarke) e Sandy (Riley Keough) e o pastor manipulador Preston Teagardin (Robert Pattinson), Arvin tenta navegar em um mundo onde a moralidade é constantemente questionada.

A história aborda temas como hipocrisia religiosa, ciclos de violência e a luta pela sobrevivência em um ambiente moralmente corrupto. A interseção entre fé e perversidade é central à narrativa, mostrando como a religiosidade mal direcionada pode ser usada como justificativa para atos terríveis.

Antonio Campos cria uma atmosfera sufocante, com uma direção que enfatiza a tensão e o peso emocional de cada cena. O ritmo é deliberadamente lento, permitindo que a violência e os dilemas morais ressoem profundamente. A cinematografia é sombria e melancólica, refletindo o estado emocional dos personagens e o ambiente opressivo em que vivem. O uso da narração, feita pelo próprio autor do livro, Donald Ray Pollock, adiciona um toque literário ao filme, mas em alguns momentos parece subestimar a capacidade do público de interpretar a história por si só.

O elenco é um dos grandes trunfos do filme. Tom Holland entrega uma performance impressionante como Arvin, mostrando uma maturidade que vai além de seus papéis anteriores. Robert Pattinson rouba a cena como o pastor Teagardin, com uma interpretação carismática e repulsiva que encapsula perfeitamente a hipocrisia de sua personagem. Bill Skarsgård, Jason Clarke e Riley Keough também se destacam, trazendo camadas de complexidade a seus papéis perturbadores.

A principal força de O Diabo de Cada Dia está na construção de sua atmosfera e no comprometimento de seu elenco. No entanto, a narrativa entrelaçada e cheia de personagens pode parecer excessivamente fragmentada e, em alguns momentos, perde força ao tentar conectar todas as subtramas. Além disso, a violência gráfica, embora justificada pelo contexto, pode ser excessiva para alguns espectadores, contribuindo para a sensação de desesperança que permeia o filme.

O Diabo de Cada Dia é uma obra intensa e provocativa, que oferece uma visão brutal da luta entre o bem e o mal em um mundo marcado pela corrupção moral. Embora não seja uma experiência fácil ou agradável, o filme é uma exploração poderosa de temas universais, com atuações marcantes e uma direção atmosférica. Para aqueles que apreciam dramas sombrios e psicológicos, é uma recomendação obrigatória. 

NOTA: 7,8/10

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