Que poder tem a mentira? Qual o tamanho da consequência
gerada a partir de um boato falso? Foram essas as perguntas que fiz a mim
mesmo, após assistir ao filme Infâmia, título
original The Children’s Hour de 1961,
dirigido pelo cineasta William Wyler. O filme é baseado na peça teatral
homônima de Lillian Hellman, que inclusive já havia sido adaptada para o cinema
em 1936 com a mesma direção de Wyler, só que o conteúdo envolvendo
homossexualidade e lesbianismo foi retirado do roteiro, e mesmo assim causou
polêmica. Na década de 60, isso mudou em Hollywood, o que fez com que Wyler realizasse
o filme novamente, só que dessa vez seria fiel à peça teatral.
Infâmia foi indicado a cinco Oscar, e obteve um tremendo sucesso
tanto na crítica quanto no público, mesmo quando seu conteúdo para a época era
algo muito polêmico e que a maioria das pessoas estranhavam. O filme é
estrelado por Audrey Hepburn (dona de um dos rostos mais lindos que já vi no
cinema clássico), e Shirley MacLaine (em sua melhor performance na carreira). As
duas interpretam as professoras Karen Wright e Martha Dobie respectivamente,
que juntas dirigem uma instituição escolar para meninas. Karen está para se
casar com o médico Joe (James Garner) e seu relacionamento com ele causa certo
desconforto em Martha que de alguma forma sente ciúmes da amiga.
Dentre as crianças que estudam na instituição, somos
apresentados a Mary (Karen Balkin), uma menina rebelde, problemática, manipuladora
e mimada, que por conta de seu comportamento delinquente vive sendo castigada
pelas professoras. A garota não mede as palavras e chega até mesmo a dizer que
ela é odiada pelas duas, e após ser pega em uma mentira e ser novamente castigada,
ela decide se vingar das professoras contando para sua avó Amelie (Fay Bainter)
que as duas mantêm um relacionamento anormal, que a avó logo conclui que se
trata de lesbianismo. O resultado deste boato culmina na falência da escola,
quando Amelie, rica e poderosa na cidade, comunica a todos os pais das meninas,
que imediatamente tiram suas filhas da instituição, com o medo de que o
comportamento considerado anormal influencie as crianças.
E para piorar, quando Karen e Martha vão em busca de
respostas para tudo aquilo que estava acontecendo, elas se deparam com a
mentira de Mary, que é resultado de um mal entendido envolvendo a tia de Martha,
Lily Mortar (Miriam Hopkins) que falava demais, e através de uma simples fala
envolvendo Karen e Martha resulta na mentira contada pela garota. A atuação de
Karen Balkin reflete uma menina que é o completo demônio, que diferente por
exemplo, de Klara do filme A Caça (2012) que
espalhou uma mentira devido a sua inocência como criança, Mary é ciente das
mentiras, é calculista e cria toda a história, até mesmo se aproveitando de um
delito cometido por outra garota para chantageá-la a confirmar o boato. Sim,
Mary é uma espécie de encarnação do Mal, seja nas suas mentiras ou até mesmo em
sua expressão facial. Quem viu o filme, com certeza deve ter odiado essa menina
com todas as forças!
A vida das professoras vira um inferno quando tudo e
todos se voltam contra elas, e mesmo com um processo por difamação, elas perdem
por que a única pessoa capaz de esclarecer o mal entendido não compareceu à
audiência. Quem é essa infeliz? Nada mais, nada menos do que a tia papagaio de
Martha, que só retorna quando precisa de dinheiro, para a completa revolta das
professoras e também do espectador claro. Juro que fiquei com ódio de Mary e
também dessa tia Lily Mortar.
Mas há algo na história que o diretor resolve ir mais a
fundo, explorando sentimentos suspeitos no decorrer do longa. Quando chega ao
clímax do filme, no meio do desespero e sentimento de culpa, vem à tona a
revelação de que o boato era verdadeiro em partes. E depois de todo o alvoroço
causado, há mais consequências por vir, só que desta vez piores do que as de
antes. O desfecho foi para mim, um soco no estômago!
Infâmia é um filme muito ousado para sua época, e mesmo hoje onde
existe uma aceitação melhor do relacionamento homossexual, claro que o
preconceito ainda existe, mas em comparação com a década de 60, não há como
negar a ousadia do filme. Imagine as pessoas da época que não eram acostumadas
com situações do tipo. De fato, isso ainda dar o que falar. Mas o que o filme
de modo geral nos ensina? Eu aprendi que as consequências de um boato podem ser
devastadoras para os envolvidos, mesmo que há algo verdadeiro no meio. O efeito
dominó que vem após uma série de preconceitos com determinada atitude reflete
de maneira impecável a realidade que nos rodeia. Hoje em dia, os homossexuais
infelizmente ainda sofrem um terrível preconceito com seu estilo de vida, mas
ao contrário da década de 60 e de 30 principalmente que era a época onde a peça
original foi feita, não existia grupos de apoio e nem leis que os protegiam, os
envolvidos teriam de lutar sozinhos, se é que podiam.
Recomendo muito o filme Infâmia, que é bem estruturado em sua narrativa que não se perde e
não acrescenta nada desnecessário, a força dramática do filme é poderosíssima,
capaz de nos fazer ficar grudados e sentir a dor dos personagens. Além disso, a
fotografia é um espetáculo à parte e as atuações são formidáveis,
principalmente de Audrey e Shirley, que nos cativa com suas interpretações
impecáveis e dignas de serem vistas e admiradas. Também é importante elogiar o
trabalho do diretor William Wyler, que sabia da importância desse filme, e após
ter a mudança em relação a assuntos envolvendo pessoas do mesmo sexo, ele
trouxe mais uma vez o filme baseado na polêmica peça da década de 30.
Simplesmente genial!
NOTA: 8,6/10
Assista ao trailer no vídeo abaixo:
Duas atrizes máximas juntas, só isso ja seria algo muito legal. òtima dica, vamos procurar amigo!!!!!
ResponderExcluirUma grande perola do cinema. Assisti no telecine faz tempo, mas queria rever. Onde posso conseguir esse filme na internet?
ResponderExcluirBaixe no torrent: http://filmescult.com.br/infamia-1961/
ExcluirOBRIGADO.
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