quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

DEUS DA CARNIFICINA


Roman Polanski escreveu e dirigiu Carnage, em português conhecido como Deus da Carnificina, baseado na peça teatral God of Carnage, cuja autora Yasmina Reza assina também o roteiro do filme. Lançado em 2012, o longa é quase que inteiramente filmado dentro de um apartamento, onde apenas quatro atores segura as pontas com brilhantes diálogos e situações de incômodo. O elenco é composto por veteranos de muito talento como Jodie Foster, Kate Winslet, Christoph Waltz e John C. Reilly.

Temos aqui um grande elenco que segura o filme inteiro dentro de um apartamento, com diálogos excelentes! É muito divertido ver a cada minuto que passa o circo pegar fogo entre os casais, em meio a situações cômicas e que beiram ao ridículo sem resolver nada do problema proposto por ambos. O desvio de assunto é inevitável quando as diferentes personalidades se chocam uma com a outra. A direção de Polanski manteve o ritmo e a estrutura narrativa é muito agradável diante de ótimas atuações.

Sinopse: O casal Nancy e Alan Cowan (Kate Winslet e Christoph Waltz) vai até a casa de Penélope (Jodie Foster) e Michael (Jonh C. Reilly) para discutir uma briga entre os filhos. Eles tentam resolver o assunto dentro das normas da educação e civilidade, mas, aos poucos, cada um perde o controle diante da situação, e a briga deles se torna pior que a briga dos filhos.

O pequeno elenco se sai muito bem com seus papéis, e surpreendentemente nenhum deles tem mais destaque que o outro, os quatro dividem igualmente as cenas de uma forma divertida e cheia de desavenças, que à medida que o filme corre até o final, a simples reunião de paz, se torna agora um lugar onde predomina xingamentos, agressões, ódio, cada um querendo se justificar devido às atitudes de seus filhos. É um filme que prendeu minha atenção, e o fato de ter praticamente só um set de filmagem, contribuindo até mesmo para um clima de sufoco, não percebi em nenhum momento algo cansativo, pelo contrário, queria saber até onde tudo aquilo iria terminar e de que forma seria isso. Deus da Carnificina é um filme agradável capaz de nos divertir diante de situações um tanto caóticas para ambos os personagens. O filme é uma crítica a sociedade que tenta se manter unida, mas sua máscara cai quando situações extremas são jogadas na mesa, e que funciona como combustível para uma explosão. Deus da Carnificina cumpre esse objetivo muito bem e ainda por cima com um tom cômico para agradar ainda mais o público.

A direção de Polanski é genial, e a forma em como ele consegue manter o clima divertido todo o tempo, apenas dentro das dependências do apartamento, é claro que para que isso funcionasse, o elenco teria de colaborar e muito. Por isso, a escolha dos atores não poderia ser melhor, todos eles são consagrados e de muito talento, o ponto forte do filme que mais me agradou foi os diálogos, uma verdadeira aula onde cada palavra é medida com sua posterior consequência, e isso funcionou tão bem que todas as vezes que o casal visitante tenta ir embora, alguma coisa que foi dita antes os fazia voltar de novo.

Jodie Foster nos encanta com sua atuação, o que é bem normal quando um papel é interpretado por ela, independente de qual seja. A personagem Penélope recebe as visitas muito bem e mesmo quando as diferenças entre eles são expostas, e a coisa começa a fugir do controle, Penélope tenta se controlar ao máximo que pode, sendo a última a ceder aos seus extintos de mãe e de dona da casa, tomando atitudes inesperadas, pois sua paciência tinha limite. Do mesmo modo em que seu marido Michael que a princípio estava quieto, começa depois a perder o controle com bebidas e juntamente com o marido visitante que irritava todos com conversas ao telefone.

Kate Winslet está deslumbrante! Sua personagem aqui reflete a de uma mãe que tenta defender seu filho quando outros o chamam de delinquente. O que mais contribui para a explosão no comportamento das mães é quando seu filho é xingado ou que toda a culpa pela confusão é dele. O filme não se preocupa em mostrar quem estar certo ou errado, embora na primeira cena, vemos o filho de Nancy e Alan dando uma paulada na cara do outro chegando a quebrar dois dentes da vítima, mas não sabemos o que gerou a briga, por que o filme não se importa em mostrar isso. O foco central está na chamada reunião de paz e conciliação, onde se manifesta de forma genial as diferenças entre as pessoas na sociedade, e o que pode resultar disso. Conforme já mencionado, a briga dos pais se torna muito pior que a briga dos garotos, e o fato de ninguém conseguir evitar a confusão já arranjada, torna-se claro que o ser humano adulto pode ser muito mais rude do que uma criança que ainda não aprendeu a medir as consequências de seus atos.

É interessante notar como os personagens são falsos um com o outro, expressando pelas costas sentimentos de raiva. Claro que em algumas ocasiões isso acontece para evitar confusão frente a frente, mas se as visitas não saíssem logo, isso iria acontecer mais cedo ou mais tarde. A personalidade agressiva muitas vezes se encontra oculta, e para desperta-lo, nada melhor do que provocações. E em Deus da Carnificina, isso é o que não falta. O filme nos permite ter uma ótica diferente naquele apartamento, é como se as pessoas que estavam lá fossem animais presos na jaula. A intenção de Polanski é alcançada com uma produção que por mais simples que seja ela é direta e acerta em cheio no ponto principal, sem perder o rumo no qual o filme deve seguir. 

NOTA: 8,5/10

Assista ao trailer no vídeo abaixo: 

4 comentários:

  1. Apesar do último terço ser um pouco exagerado, o filme é muito bom ao retratar o comportamento humano, sempre mostrando as virtudes num primeiro momento e escondendo os defeitos, que acabam vindo à tona na hora de defender seus interesses.

    Abraço

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  2. eu amo esse filme. os textos da yasmina reza costumam ser incríveis. já vi vários projetos com textos dela e sempre impactantes. o elenco é majestoso. só feras. se entregam ao ridículo. gosto muito de mostrar muito como é a sociedade. que no início tudo parece impecável, mas quando os limites vão chegando há muita hipocrisia.
    http://mataharie007.blogspot.com.br/2012/06/deus-da-carnificina.html

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    1. Isso mesmo Pedrita, a coisa fica tão preta que a única opção para quem assiste é rir da situação. kkkk

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