Alguém já viu o filme chamado Mangue Negro? Talvez você cinéfilo de blockbuster nunca tenha ouvido falar,
mas um cinéfilo cult com certeza já
assistiu ou pelo menos já viu comentários a respeito. Pois bem, Mangue Negro é um filme independente do
gênero terror lançado em 2008, onde zumbis absurdamente bizarros aterrorizam a
tela, ou pelo menos tentam. E se trata de um filme 100% brasileiro dirigido
pelo estreante Rodrigo Aragão, um cineasta que hoje já possui diversos
trabalhos em seu currículo, e quase todos do gênero terror, por isso eu
pergunto a você: quem disse que o terror nacional se resumia apenas no Zé do
Caixão?
Mangue
Negro se ambienta em locais pobres e longe da cidade, o filme não diz em que
lugar a história se passa. Sabemos que foi gravado no Espírito Santo, no
entanto, existe um pequeno povoado e um mangue. O local é muito utilizado por
pescadores em busca de comida. Só que de repente, de dentro do mangue passam a
emergir zumbis. E é onde o caos se instala. As aberrações atacam os moradores
do local transformando-os em seres abomináveis. Então, o que se tem a fazer é
lutar pela sobrevivência. O protagonista do filme é um sujeito tímido chamado
Luís, que é apaixonado por Raquel, uma mulher que mora no povoado e bem gatinha
por sinal. Acontece que Luís tenta se declarar para a moça, mas seus planos são
sempre impedidos com alguma coisa, além do mais, a garota não dar muita bola
para ele.
Quem for assistir a esse filme tem que estar
ciente de 2 fatores: o primeiro é que praticamente tudo no filme é amador, os
atores, a câmera, trilha sonora, enfim. Segundo, o orçamento é extremamente
limitado, ouvi comentários de que Rodrigo Aragão tinha apenas 300 reais no
bolso quando começou a trabalhar com o filme, o orçamento final chegou aos 50
mil reais. Para um filme de terror, onde exigia extensos trabalhos com
maquiagem sem falar na edição, o orçamento é muito pouco. E falando na
maquiagem, toda ela foi feita por Aragão, que mostrou ser um sujeito talentoso
ao criar monstros bizarros. De todo modo, as pessoas precisam ver a decência de
terem levado esse filme ao final, sendo que depois ele seria premiado em
diversos festivais no Brasil e no exterior.
Contudo, Mangue
Negro não é um bom filme, mas também não é completamente ruim. Tem uma
premissa interessante, mas devido a baixa qualidade e cenas extremamente
amadoras, é difícil alguém segurar até o final, exceto nos casos do amor ao
cinema, comigo foi assim. Eu procurei me ater no lado bom dessa produção, não
vamos exigir grandes atuações ou efeitos especiais de Hollywood. Mangue Negro se sobressai na questão
de ser um gore, cenas trash de alto
nível, e pra quem curte esse tipo de filme, não há o que reclamar. Se você
gostou, por exemplo, do filme Uma Noite
Alucinante: A Morte do Demônio (1981), sem dúvida gostou de Mangue Negro, por que são filmes
parecidos, embora o tema zumbi não seja o mesmo do clássico do diretor Sam
Raimi.
Continuando a falar do que acontece em Mangue Negro, quando os zumbis começam a
atacar, o clima do filme caminha num rumo sem fim, já que não se sabe como
surgiram essas criaturas e o que tem de fazer para cessar a carnificina. O
filme centraliza apenas na questão da sobrevivência, onde Luís se mostra
habilidoso com um machado e o usa para matar as criaturas, ao mesmo tempo
tentando proteger o amor de sua vida. Como eu disse antes, as atuações são
amadoras, que de certo modo pode e causa muito incômodo em algumas pessoas.
Entretanto, mesmo sem mostrar nenhum talento diante das câmeras, o elenco se
sai bem, segurando o filme da maneira que pode.
E por falar em personagens, não posso deixar
de fora a Dona Benedita, que na verdade é um homem por trás. Essa personagem
engraçada rouba a cena com suas falas lentas e utilizando gírias do povo do
interior. Algumas pessoas dizem que ela é a mãe dos zumbis, claro que em tom
sarcástico né, por que a velhinha é feia que dói na alma! A trilha sonora do
filme tem seus altos e baixos, em algumas cenas ouvimos sons de berimbau, nada
a ver com o ataque zumbi né, mas por outro lado, houve cenas em que a trilha
combinou bastante com a tensão e desespero para não morrer. E se há uma coisa
que não falta em Mangue Negro é
sangue, mas muito sangue! Um gore bem
nítido para os fãs apreciarem, além do humor negro que predomina em boa parte do longa.
Após este filme, Rodrigo Aragão produziu uma
trilogia seguida por A Noite dos
Chupacabras (2011) e Mar Negro
(2013), e eu já assisti a ambos os filmes, do mesmo estilo de Mangue Negro, os mesmos atores,
monstros, o que difere é a história e a qualidade de imagem que melhorou
bastante! Mas, se não fosse assim, todo mundo ia perguntar a Rodrigo Aragão o
que ele fez com o lucro obtido em Mangue
Negro, por que querendo você acreditar ou não, o filme trash de Aragão foi sucesso no exterior, o cineasta até foi
cultuado como o sucessor de José Mojica Marins, o que pra ele deve ser uma
honra e tanto! Mas, devo enfatizar que nos últimos anos, o cinema nacional
apostou em diversas produções do gênero terror, citando alguns exemplos temos: Condado Macabro (2015), O Rastro (2017);
Desaparecidos (2011) e dirigido por Aragão, temos As Fábulas Negras (2014), sendo que este último Rodrigo Aragão
trabalhou ao lado de José Mojica Marins.
NOTA: 6,6/10
E veja só: o filme está no YouTube, assista
abaixo e divirta-se!
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