quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

MANGUE NEGRO


Alguém já viu o filme chamado Mangue Negro? Talvez você cinéfilo de blockbuster nunca tenha ouvido falar, mas um cinéfilo cult com certeza já assistiu ou pelo menos já viu comentários a respeito. Pois bem, Mangue Negro é um filme independente do gênero terror lançado em 2008, onde zumbis absurdamente bizarros aterrorizam a tela, ou pelo menos tentam. E se trata de um filme 100% brasileiro dirigido pelo estreante Rodrigo Aragão, um cineasta que hoje já possui diversos trabalhos em seu currículo, e quase todos do gênero terror, por isso eu pergunto a você: quem disse que o terror nacional se resumia apenas no Zé do Caixão?


Mangue Negro se ambienta em locais pobres e longe da cidade, o filme não diz em que lugar a história se passa. Sabemos que foi gravado no Espírito Santo, no entanto, existe um pequeno povoado e um mangue. O local é muito utilizado por pescadores em busca de comida. Só que de repente, de dentro do mangue passam a emergir zumbis. E é onde o caos se instala. As aberrações atacam os moradores do local transformando-os em seres abomináveis. Então, o que se tem a fazer é lutar pela sobrevivência. O protagonista do filme é um sujeito tímido chamado Luís, que é apaixonado por Raquel, uma mulher que mora no povoado e bem gatinha por sinal. Acontece que Luís tenta se declarar para a moça, mas seus planos são sempre impedidos com alguma coisa, além do mais, a garota não dar muita bola para ele.



Quem for assistir a esse filme tem que estar ciente de 2 fatores: o primeiro é que praticamente tudo no filme é amador, os atores, a câmera, trilha sonora, enfim. Segundo, o orçamento é extremamente limitado, ouvi comentários de que Rodrigo Aragão tinha apenas 300 reais no bolso quando começou a trabalhar com o filme, o orçamento final chegou aos 50 mil reais. Para um filme de terror, onde exigia extensos trabalhos com maquiagem sem falar na edição, o orçamento é muito pouco. E falando na maquiagem, toda ela foi feita por Aragão, que mostrou ser um sujeito talentoso ao criar monstros bizarros. De todo modo, as pessoas precisam ver a decência de terem levado esse filme ao final, sendo que depois ele seria premiado em diversos festivais no Brasil e no exterior.



Contudo, Mangue Negro não é um bom filme, mas também não é completamente ruim. Tem uma premissa interessante, mas devido a baixa qualidade e cenas extremamente amadoras, é difícil alguém segurar até o final, exceto nos casos do amor ao cinema, comigo foi assim. Eu procurei me ater no lado bom dessa produção, não vamos exigir grandes atuações ou efeitos especiais de Hollywood. Mangue Negro se sobressai na questão de ser um gore, cenas trash de alto nível, e pra quem curte esse tipo de filme, não há o que reclamar. Se você gostou, por exemplo, do filme Uma Noite Alucinante: A Morte do Demônio (1981), sem dúvida gostou de Mangue Negro, por que são filmes parecidos, embora o tema zumbi não seja o mesmo do clássico do diretor Sam Raimi.



Continuando a falar do que acontece em Mangue Negro, quando os zumbis começam a atacar, o clima do filme caminha num rumo sem fim, já que não se sabe como surgiram essas criaturas e o que tem de fazer para cessar a carnificina. O filme centraliza apenas na questão da sobrevivência, onde Luís se mostra habilidoso com um machado e o usa para matar as criaturas, ao mesmo tempo tentando proteger o amor de sua vida. Como eu disse antes, as atuações são amadoras, que de certo modo pode e causa muito incômodo em algumas pessoas. Entretanto, mesmo sem mostrar nenhum talento diante das câmeras, o elenco se sai bem, segurando o filme da maneira que pode.



E por falar em personagens, não posso deixar de fora a Dona Benedita, que na verdade é um homem por trás. Essa personagem engraçada rouba a cena com suas falas lentas e utilizando gírias do povo do interior. Algumas pessoas dizem que ela é a mãe dos zumbis, claro que em tom sarcástico né, por que a velhinha é feia que dói na alma! A trilha sonora do filme tem seus altos e baixos, em algumas cenas ouvimos sons de berimbau, nada a ver com o ataque zumbi né, mas por outro lado, houve cenas em que a trilha combinou bastante com a tensão e desespero para não morrer. E se há uma coisa que não falta em Mangue Negro é sangue, mas muito sangue! Um gore bem nítido para os fãs apreciarem, além do humor negro que predomina em boa parte do longa.

Após este filme, Rodrigo Aragão produziu uma trilogia seguida por A Noite dos Chupacabras (2011) e Mar Negro (2013), e eu já assisti a ambos os filmes, do mesmo estilo de Mangue Negro, os mesmos atores, monstros, o que difere é a história e a qualidade de imagem que melhorou bastante! Mas, se não fosse assim, todo mundo ia perguntar a Rodrigo Aragão o que ele fez com o lucro obtido em Mangue Negro, por que querendo você acreditar ou não, o filme trash de Aragão foi sucesso no exterior, o cineasta até foi cultuado como o sucessor de José Mojica Marins, o que pra ele deve ser uma honra e tanto! Mas, devo enfatizar que nos últimos anos, o cinema nacional apostou em diversas produções do gênero terror, citando alguns exemplos temos: Condado Macabro (2015), O Rastro (2017); Desaparecidos (2011) e dirigido por Aragão, temos As Fábulas Negras (2014), sendo que este último Rodrigo Aragão trabalhou ao lado de José Mojica Marins. 

NOTA: 6,6/10

E veja só: o filme está no YouTube, assista abaixo e divirta-se! 

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