Os dramas em que chamam atenção para o lado mental, em
especial quando o assunto é uma doença se torna importante para aqueles que se interessa
por temas assim, seja por curiosidade ou para fins acadêmicos. O filme Menos Que Nada lançado em 2012 e
dirigido por Carlos Gerbase fala sobre esse tipo de assunto de uma maneira
eficaz e muito bem feita. A história se centraliza em um caso de um paciente
que sofre de esquizofrenia e o desenvolvimento do filme é feito a partir de
depoimentos de pessoas que conviviam com a paciente antes de surtar e depois
ser internado. O filme é estrelado por Felipe Kannenberg, Branca Messina, Maria
Manoella e Rosanne Mulholland. A produção recebeu diversos elogios do público,
em especial dos psicanalistas, que o consideraram uma excelente abordagem sobre
o que se passa na mente de um esquizofrênico e também a maneira em como um
tratamento diferente pode obter bons resultados na intenção de recuperar
parcialmente a memória e trazer a pessoa de volta à realidade, mesmo que seja por
um breve momento.
Sinopse: O drama nacional Menos
Que Nada conta a história de Dante (Felipe Kannenberg), um homem que está
internado em um hospital psiquiátrico com diagnóstico de esquizofrenia. Ele não
fala com ninguém, nem recebe visitas, permanecendo indiferente ao mundo. Isso
até a jovem psiquiatra Dra. Paula (Branca Messina) se interessar mais
profundamente pelo caso, após ver Dante surtar no pátio do hospital. Disposta a
desvendar as relações sociais do seu paciente, a médica faz uma série de
entrevistas com pessoas que conviviam com ele antes do internamento, como o
pai, a professora, uma amiga e um antigo amor.
Eu em particular, adorei o filme, não apenas pela interessante história, mas pelo ótimo desenvolvimento e as excelentes atuações principais. Dentro do contexto social, o filme faz uma imensa crítica sobre o modo em como os pacientes de um hospital psiquiátrico são tratados, sejam por métodos brutais ou condições horríveis de ambiente. Quando o filme começa a filmar o hospital onde o protagonista está internado, Gerbase faz questão de expor as condições deploráveis do lugar e a aparência dos pacientes. Também mostra a maneira em que as pessoas são esquecidas como se não houvesse nada a fazer para ajudar, e que embora a esquizofrenia, por exemplo, é uma doença incurável, os responsáveis pelo hospital deveriam se preocupar com as atualizações de medicação e os prontuários. Logo de cara, nos deparamos com uma triste realidade, e o que nos consola é saber que existem profissionais que realmente levam seu trabalho a sério, conforme acontece com uma das co-protagonistas do filme.
Dante não é mostrado no filme apenas como o doente
mental. Antes de ser internado, ele vivia normalmente, embora seu comportamento
seja visivelmente excêntrico. Quando criança, em uma das cenas iniciais, ele é
repreendido pela mãe por apenas brincar com uma menina, alguns talvez possam
concluir que a mãe de Dante não é normal, e dessa forma talvez possa ter
passado a doença geneticamente para o filho, o que explica um comportamento
diferente da parte do mesmo, e embora o filme não afirme isso em nenhum
momento, tal conclusão pode ser plausível. O jovem Dante não teve uma infância
e muito menos uma juventude feliz, isso por que ele sofre com grandes perdas, o
que inclui a sua mãe. E por causa disso, ele passa a crescer junto com seu pai,
que quase não dava a detida atenção para o filho, devido ao seu trabalho como
policial. Isso pode muito bem significar que o isolamento do jovem Dante também
contribuiu para o desenvolvimento de sua doença, e é interessante notar que
ninguém suspeita que haja alguma errada com ele, mesmo diante de seu estranho
comportamento, é aquela típica situação: se não aparenta estar doente, então
não está. Isso infelizmente é comum, pois muitas pessoas carregam consigo uma
doença que se desenvolve silenciosamente, mas ninguém se apercebe disso, até
que ela se manifeste.
Quando o protagonista está internado, ele desperta a atenção da bela Dra. Paula, que ao ver o surto de Dante, ele fica cavando um buraco sem propósito algum, depois ele pressente um perigo, faz ato sexual com uma cadeira, e de repente alguma coisa o ataca e depois de uma briga ele cai morto, após horas ele acorda, volta a cavar e faz tudo de novo. A médica tenta procurar um significado para aquilo que ele sempre faz. Ou seja, a médica quer realmente saber como o paciente enxerga o mundo, o que produz a sua imaginação, seja real ou ilusão, isso tornaria mais fácil procurar um motivo para tais atos ou então a causa para a doença. E é isso que a Dra. Paula faz, por isso eu acho ela a melhor personagem do filme, por que é a única que se importa de verdade com o Dante, e que mesmo contra os conselhos do diretor do hospital, que relata que o paciente pode se tornar perigoso a ponto de feri-la, ela é firme na decisão de fazer seu estudo de caso com ele. E para isso, ela precisa investigar o passado do seu paciente, suas convivências e costumes, a fim de se aprofundar nitidamente na vida dele, e descobrir a real causa de seu surto.
É aí que o filme entra em um estilo de desenvolvimento
extremamente interessante, que apela para flashbacks sobre o passado de Dante,
que o vemos como um estudante universitário de arqueologia. Esses eventos são contados
de acordo com a visão do depoente, no caso aqui se trata das pessoas que
conviviam com Dante, e a Dra. Paula obteve inicialmente três nomes, o da
professora, o pai e a amiga de infância, aquela por quem a mãe de Dante o
repreendeu por apenas brincar com ela. Essas pessoas passam a contar como era a
vida do rapaz, levando em conta seu próprio ponto de vista. E todos esses
depoimentos são gravados com câmera de vídeo pela médica que depois mostra ao
paciente, em uma tentativa de fazê-lo lembrar do passado.
No depoimento de Berenice (Maria Manoella), a amiga de Dante, ela conta que o reencontrou após muitos anos depois de vê-lo na tv em uma reportagem sobre arqueologia, onde realmente Dante estava presente junto com outros universitários. Um ponto de partida de extrema importância para a trama como um todo, está na descoberta de fósseis encontrados num barranco que pertence a Berenice e seu marido Ciro. E Berenice, ao entregar um fóssil a Dante, o que desperta o ciúme doentio de Ciro, ele acaba por mostrar o artefato para uma importante arqueóloga, a Dra. Renê (Rosanne Mulholland) a quem Dante passa a se apaixonar. E ela motivada pela ambição de uma grande descoberta, usa Dante para roubar mais fósseis, o que desencadeia uma perseguição da parte de Ciro, que se convence de que o roubo foi efetuado pelo amigo de sua esposa. Esses eventos, misturados com a ganância de Renê, a tristeza de Berenice e os acontecimentos que antes já tinham afetado o protagonista contribui para aquilo que já prevíamos. Um grande quebra-cabeça é montado aos poucos, e isso é em si, um grande feito do diretor Gerbase. Além disso, ele escolheu lindas locações no Rio Grande do Sul, que fez com que o filme tivesse uma fotografia memorável.
Vale destacar as atuações. Felipe Kannenberg arrancou
grandes elogios com seu desempenho de um doente mental, que ficou a cargo das
interpretações mais difíceis, que variam com olhares, expressões faciais e
atitudes assustadoras. Branca Messina como a dedicada doutora Paula, é o ponto
alto e forte, devido à maneira em como ela encara a realidade e o tamanho
esforço que ela dedica com seu trabalho. Maria Manoella e Rosanne Mulholland se
saem muito bem com seus papéis distintos um do outro, embora elas sejam as
mulheres da vida de Dante, algo que acaba o tornando frágil, fazendo-o com que
tome decisões precipitadas e depois não há como voltar.
“O amor alimenta a loucura ou seria o contrário?” Essa é a reflexão que Carlos Gerbase deixa a cargo do espectador, isso por que todas as peças do filme podem gerar múltiplas interpretações sobre a verdadeira causa da esquizofrenia de Dante, e também que ele passa a dar seu próprio depoimento, pois o novo tratamento da Dra. Paula fez com que ele voltasse um pouco à realidade. Todavia, fica a pergunta: devemos acreditar nas palavras de um esquizofrênico? Enfim, a reflexão fica a nosso cargo.
Entretanto, o filme não escapa de alguns defeitos, o
principal deles é a atuação tosca e medíocre de Ciro, o marido de Berenice que
foi interpretado por Alexandre Vargas, a atuação é tão ruim que chega até mesmo
a irritar, outro ponto desnecessário são as cenas de sexo, embora um
envolvimento entre os personagens tivesse de acontecer, os momentos da transa
não contribui com nada, a não ser que cena de sexo é algo obrigatório para o
cinema nacional, mas tudo bem, dar pra engolir essa falha, por que a narrativa
do filme em sua totalidade agrada muito que esquecemos esses detalhes.
Menos Que Nada é um filme muito recomendável, mas infelizmente
ele não é muito conhecido entre o público, seu pôster e sinopse pode não
interessar a maioria das pessoas, no entanto, se você que estiver lendo esse
texto e desejar dar uma conferida nesse filme, uma simples recomendação eu
darei: assista com a mente aberta, pois como se trata de um drama psicológico, só
assim você entenderá a essência que o filme pretende repassar, também não
espere soluções para a doença do protagonista, tenha em mente que o problema
dele não existe cura. A mensagem e crítica geral do filme se encontram em seu
desenvolvimento e forma de lidar com situações extremas, porém, altamente
delicadas.
NOTA: 8/10
Veja o trailer no vídeo abaixo:
fiquei curiosa, esse filme eu não vi. adoro o elenco. confesso nunca ter ouvido falar nesse filme. beijos, pedrita
ResponderExcluirPois é, o filme é um pouco desconhecido, mas como destaquei na resenha, ele possui um ótimo tema. Espero que vc goste. Ah, e depois de assistir, me conta o que vc achou. Um abraço!
ExcluirVocê não tem nenhuma resenha do filme falsa loura, dessa mesma atris Rosenne Mulholand?
ResponderExcluirOlá Anônimo, eu já assisti esse filme chamado "Falsa Loura", mas ainda não tive tempo de escrever a resenha/crítica dele. Mas em breve estará disponível, siga o blog para não perder.
ExcluirOk, valeu.
ExcluirFalsa loura tem cena de sexo?
ExcluirSim, mas não muito pesadas, as cenas só focam o rosto dos atores. Agora, tem cena de nudez explícita.
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