Nos nossos dias, é comum que as pessoas
desenvolvam ódio por certos tipos de gente. Em especial, quando se trata de
pedófilos. Molestar uma criança inocente nos causa revolta. Já aconteceu em
muitos casos da população linchar o criminoso, ou seja, fazer justiça com as
próprias mãos. Muitas pessoas concordam com tal ato, mas já parou pra se
perguntar se o acusado é mesmo pedófilo? Uma menina o acusou de ter mostrado
suas partes íntimas, e ela não mentiria quanto a isso, portanto, ele é um
molestador sexual e que merece pena. Na maioria das vezes, por haver uma
acusação vinda de uma criança, dificilmente alguém irá discordar dela, não é mesmo?
No entanto, um filme dinamarquês lançado em 2012, intitulado A Caça nos
faz refletir sobre questões desse tipo.
O filme foi dirigido por Thomas Vinterberg e
estrelado por Mads Mikkelsen. O filme se ambienta numa cidadezinha dinamarquesa
em vésperas de Natal. Lucas (Mads Mikkelsen), professor do jardim-de-infância,
é acusado de agressão sexual e passa a ser alvo de perseguição por toda a
comunidade. O filme foi exibido no Festival Internacional de Cinema de Toronto
(2012) e competiu no Festival de Cinema de Cannes daquele ano, em que o ator
Mads Mikkelsen ganhou o prêmio de melhor ator.
Para você se dar conta de como ás vezes
agimos ou pensamos de maneira injusta. Eu particularmente gostei muito do
longa, me fez refletir muito. Mostrando que um julgamento precipitado causa dor
e sofrimento a todos os envolvidos. Também nos traz uma triste realidade da
nossa sociedade hoje, nos dando assim a reflexão necessária para saber que as
pessoas são ingênuas e em meio a situações onde não conhecemos bem os fatos,
acabamos por julgar de maneira errada as pessoas, e muitas vezes apelando para
a violência, como se isso fosse resolver a situação. De modo direto, A Caça
é um drama bem elaborado e traz uma mensagem peculiar a certas situações que
têm de ser tratadas com o devido cuidado. O cinema dinamarquês tem suas
qualidades e que devem ser exploradas, e esse filme é um exemplo claro disso.
No filme, Lucas é um homem recém-divorciado
que tenta refazer a vida, ao conseguir trabalho numa creche, ele todos os dias
tem contato com muitas crianças. A princípio, sua relação com os alunos é boa e
saudável, uma colega de trabalho aproxima-se dele e acaba por tornar-se sua
namorada. Porém sua vida é completamente arrasada quando ele é injustamente
acusado de ter abusado de Klara (Annika Wedderkop), uma garotinha do
jardim-de-infância, sob a alegação de ter-lhe mostrado sua genitália. Na
verdade, Klara havia sido exposta a material pornográfico por seu irmão mais
velho, que lhe mostrara a fotografia de um pênis ereto. O que embasou seu relato
confuso envolvendo Lucas.
Ao confessar para a diretora da escola sobre
isso, ela contata um psicólogo para fazer perguntas meio embaraçosas para a
garota. Nesse momento, notamos que a diretora e o psicólogo acreditam na
menina, e suas perguntas apenas servem para dar respaldo à aquilo que eles
querem ouvir. Percebemos que as perguntas são feitas de modo condicional, para
que a garota em meio ao constrangimento, apenas afirme que Lucas a molestou. E
é interessante que em vários momentos, Klara chega a negar sua acusação,
mostrando que ela não tem certeza de nada do que falou. Ainda assim, as pessoas
preferem acreditar na acusação. Não percebem que Klara é apenas uma menininha
inocente que talvez ficasse afetada psicologicamente ao ver um pênis ereto, não
de Lucas, mas de um material pornográfico usado por seu irmão mais velho.
Falando do injustiçado Lucas, depois da
acusação de abuso sexual sua vida vira um inferno, literalmente falando. Ele
perde o emprego, a namorada, passa a ser odiado por todos na pequena cidade e
até mesmo sendo agredido verbalmente e fisicamente. E os problemas não param
por aí, antes de ser acusado, Lucas aguardava ansiosamente por seu filho Marcus
para a véspera de Natal. O que ele não imaginava é que Marcus também seria alvo
de críticas em relação ao seu pai e também sendo agredido por alguns homens da
cidade. Sem se falar na cachorra de Lucas, que foi morta de modo brutal,
causando a revolta de seu dono. A injustiça era tão grande, que eu já estava
com raiva daquelas pessoas.
Vale destacar também que o pai de Klara é o melhor
amigo de Lucas, e a acusação de sua filha afetou a amizade entre ambos. Lucas
chega a ser preso, mas é solto, pois a polícia havia encontrado contradições na
história de Klara e de outras crianças que estavam espalhando a história no
vilarejo. Esse foi um ponto de partida para as pessoas verem a inocência de
Lucas, mas não acontece isso. Ao ir fazer compras num supermercado local, Lucas
é brutalmente agredido pelos funcionários, em uma cena revoltante!
Até mesmo o pai de Klara não havia enxergado
a real situação de seu amigo, e durante uma missa, Lucas revoltado com tudo o
que estava acontecendo acaba agredindo o homem dentro da igreja na frente de
sua família. Embora nada justifique a ação tomada por Lucas, mas se nos
colocarmos na situação dele, podemos compreender o motivo para tal ato extremo.
Por outro lado, Lucas nunca destrata Klara mesmo após a acusação, pois ele sabe
que a garotinha tem uma mente fértil e pode ter imaginado coisas, e de fato foi
isso que aconteceu!
A atuação de Mads Mikkelsen foi ótima, e a
fotografia do filme é linda e chamativa! E o filme ensina uma importante lição!
Não devemos julgar precipitadamente sem saber dos fatos envolvidos, mesmo que
pedofilia seja um crime bárbaro e passível de punição severa, temos de ter
cuidado para não injustiçar ninguém. E também o filme mostra que uma pessoa
sendo uma vez marcada, será sempre marcada. Nem sempre as pessoas esquecem-se
da fama de alguém, seja essa fama boa ou ruim, verdadeira ou não. É triste
saber que mesmo injustiçadas, as pessoas nunca terão 100% do perdão geral. Em
resumo: é um excelente filme dramático e reflexivo! Com boas atuações e uma
direção cheia de talento! O cinema dinamarquês ganhando seu espaço no mundo.
NOTA: 8,9/10
Veja o trailer do filme no vídeo abaixo:
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