O Brasil
é um país onde há desigualdade entre pessoas de classes sociais diferentes.
Algumas vezes, isso gera conflitos em ambas as partes quando confrontadas com
seus diferentes modos de vida. Acontece que a falta de convívio pleno e
satisfatório entre pessoas de diferentes classes pode resultar em preconceito
que uma tem com a outra. Por exemplo, um homem de negócios sempre é bem visto
no mundo capitalista, ou seja ele é o máximo, o sucesso total e citado para
todos como modelo para os demais integrantes da sociedade, a riqueza muitas
vezes é mostrada como seu triunfo pelo seus esforços, diferente do principal
fundamento da desigualdade que a pobreza é encarado como o fator
principal do fracasso de alguém.
O texto a
seguir contém spoilers!
O
longa-metragem brasileiro Que Horas Ela Volta? de Anna
Muylaert que foi lançado em 2015 trata especificamente disso. Trazendo uma
crítica a desigualdade social no Brasil. Estrelado por Regina Casé, Camila
Márdila e Karine Teles, o filme conta a história de uma pernambucana que
trabalha como empregada doméstica para uma família de classe média em São
Paulo. Sendo tratada com "se fosse da família" por seus patrões, Val
(Regina Casé) trabalha arduamente, além de morar no quarto dos fundos, que por
sinal é bem pequeno.
Nesse
início, notamos várias das grandes diferenças entre os ricos e os pobres. O
filme retrata de maneira esplêndida as desigualdades da sociedade capitalista.
Cada tipo de organização social estabelece as desigualdades, de privilégios e
de desvantagens entre os indivíduos. Temos como exemplo, algumas cenas iniciais
do filme, onde Val presenteia sua patroa com um conjunto de xícaras, e ela por
sua vez a manda guardar para uma ocasião especial. Nessa ocasião especial,
Bárbara (Karine Teles) dá uma bronca em Val, quando esta usa as xícaras para
servir os convidados de mesma classe social que sua patroa.
Outra
cena, vemos a maneira como dona Bárbara ignora Val em vários momentos quando
esta quer lhe falar algo, portanto, suas palavras depõem contra a mesma, quando
diz que Val é alguém "da família". Mas não devemos encarar dona
Bárbara como uma pessoa má, até por que ela trata Val muito bem, apesar de ser
sua empregada, ela quase nunca a destrata ou fala de maneira rude, salvo na
situação descrita antes. Uma situação interessante é quando percebemos que dona
Bárbara é uma estilista bastante atarefada e por isso seu único filho, Fabinho
(Michel Joelsas) tem sido criado desde pequeno por Val. Que de certo modo, é
uma maneira de compensar o abandono de sua filha Jessica, após deixá-la junto
com os avós em Pernambuco.
Voltando
a falar da vida de Val como empregada e babá do filho de sua patroa, ela por
sua vez, recebe a notícia que sua filha Jéssica (Camila Márdila) está indo à
São Paulo prestar vestibular. Ansiosa pra ver sua filha, Val pede permissão aos
seus patrões para receber sua filha enquanto ela consegue alugar um
apartamento. Nisso, Bárbara, seu Marido Carlos (Lourenço Mutarelli) e Fabinho
ficam ansiosos para conhecer a filha de Val. No entanto, é a partir desse
momento que o filme se alarga na mensagem que quer repassar para o público.
Jéssica
ao saber que sua mãe mora na casa dos patrões começa a questioná-la. Sem
entender as diferenças sociais em ambas as famílias, ela não consegue seguir
algumas regras básicas, como por exemplo, não comer na mesma mesa dos patrões
ou não usar o quarto de hóspedes. Por ser filha de uma empregada, de acordo com
o "padrão" capitalista ele deveria ser tratada como tal. Não é por
que não trabalha como doméstica, mas sua classe a deixa em uma posição
"inferior", isso de acordo com os de classe mais alta. Val fica em um
dilema sobre o comportamento de sua filha, que não aceita de nenhuma maneira as
diferenças sociais.
Entretanto,
existe um flerte entre Jéssica e Carlos, este a todo momento trata a filha da
empregada como alguém da alta sociedade, inclusive duas das regras que Jéssica
teria de seguir foram violadas por influência de Carlos em relação a moça. Já
outra regra que Val pôs para sua filha seguir enquanto estivesse na casa de
seus patrões era a respeito da piscina. Nenhum empregado (ou filho(a) de
empregado) deve nadar na piscina de seus chefes, porém, Jéssica é de algum modo
induzida a se divertir na piscina, para o desespero de sua mãe.
Além dos
conflitos entre patrão e empregado, temos também entre mãe e filha. Porém, há
um mistério envolvendo as duas que a medida que o longa caminha nos é revelado
um segredo, digamos assim fatal! O que motivará Val a fazer uma difícil
decisão, como consequência ao sentimento de culpa que esta carrega desde que
deixou sua terra natal. Há momentos de revolta da parte de Jéssica, pois não se
considera pior do que ninguém. E inconformada com a vida que sua mãe leva uma
vida de "escrava"; ela causa conflitos entre Bárbara e Val. O que
antes era um convívio amigável se tornou incômodo, pois uma das partes age como
uma rebelde que não respeita as diferenças entre eles.
Que Horas
Ela Volta? é um dos melhores (se não for o melhor) filme brasileiro dessa
década. A direção de Anna Muylaert é impecável! O modo como ela deixa a câmera
fixada num único lugar em vários momentos do filme, e deixando que os atores se
manifestem de maneira natural. Vale destacar a brilhante atuação de Regina
Casé. Confesso que não vou muito com a cara dela, mas interpretando uma
pernambucana batalhadora e brilhando no sotaque nordestino, eu fiquei abismado
na primeira vez que assisti essa obra e aplaudi seu desempenho. Sua atuação lhe
rendeu prêmios como Melhor Atriz em vários festivais de cinema no Brasil e ao
redor do mundo.
A
personagem de Regina Casé é bastante sofrida, o que leva a ser um drama
produzido com primor, por que o que impressiona é o seu carisma desde o início,
isso já faz com que conquiste o público e o induz a assistir o filme até o fim.
Já sobre Fabinho, não podemos deixar de destacar o seu modo de encarar as
coisas. Ele trata Val como sua própria mãe, já que foi esta quem o criou, e
quando está em busca de consolo, é nela a quem ele vai recorrer. Outro ponto
que chama atenção é que a família de Bárbara quase não interage entre si, cada
um no seu mundo, geralmente o mundo virtual. Enquanto Val pensa o tempo todo na
sua filha e no bem estar da mesma, apesar dela ser muito rude com a mãe no
filme, e que nem mesmo a chama de mãe, pois foi criada pela avó.
Esse
filme merece ser visto e refletido com a mensagem que ele repassa sobre os
acontecimentos que ocorrem nele. Uma mensagem criticando a desigualdade social
no nosso país, sendo muitíssimo elogiada pelos amantes de cinema, muitos deles
o considera o melhor longa-metragem brasileiro, outros como o melhor filme
nacional da década. Em vista disso, é muito satisfatório ver que o cinema
nacional evoluiu muito nos últimos anos. Chega de dar publicidade exagerada para comédias
repetitivas! Uma arte como o cinema é perfeito para retratar o nosso modo de
vida e a nossa sociedade sendo exposta de uma maneira linda para o mundo ver e
admirar!
NOTA: 10/10
Veja o
trailer no vídeo abaixo:
Amooo esse filme! É simplesmente lindo e gosto de se assistir.
ResponderExcluirTambém gosto muito! Obrigado por sua visita e comentário.
Excluir