Um dos filmes que está gerando inúmeras discussões e debates nesses dias
de quarentena é o filme espanhol O Poço, lançado
na Netflix no dia 18 de março de 2020. O filme trouxe uma série de
questionamentos sobre classes sociais e a diferença que há entre ambas no que
se refere ao alimento adquirido. O filme foi dirigido por Galder
Gaztelu-Urrutia e é estrelado por Ivan Massagué, Alexandra Masangkay, Emilio
Buale e Zorion Eguileor.
Sinopse: Dentro de um sistema prisional vertical, os presos são
designados para um determinado nível e forçados a racionar alimentos a partir
de uma plataforma que se move entre os andares. O Poço é uma alegoria social
sobre a humanidade em sua forma mais sombria e faminta.
Muitos de nós já ouvimos falar em pirâmide social, e este filme é
basicamente uma representação dessa pirâmide. O poço é uma prisão dividida em
níveis na forma vertical, onde o mais alto corresponde ao nível 0 e o mais
baixo vai além do número 300. Em cada nível há dois detentos, mas todos os
meses eles são trocados, podendo acordar em um nível alto ou em um nível muito
baixo. A mensagem que o filme tenta repassar é a importância da solidariedade
do ser humano com o seu próximo.
Todos os dias, uma plataforma desce os níveis um de cada vez, trazendo
um grande banquete de alimento para que os presos possam comer. No entanto,
eles só podem desfrutar da comida no momento em que a plataforma estiver parada
no nível deles, se tentarem guardar alguma coisa, inexplicavelmente a prisão
pode aumentar ou baixar muito a temperatura, podendo inclusive matar os
detentos. O interessante é que nos níveis mais altos, a comida pode ser
desfrutada muito bem, há farturas e uma grande variedade de alimentos. Porém, à
medida que a plataforma desce a comida vai diminuindo, e em níveis muito baixos,
não sobra absolutamente nada.
A ideia é que se cada um comer nas porções certas, apenas uma pequena
quantidade para o dia, todos os níveis teriam o suficiente para sobreviver, mas
não é o que acontece. Isso simboliza muito bem a divisão de classes em nossa
sociedade, onde os ricos (nível alto) podem usufruir o que quiserem, e descendo
os níveis a variedade de alimento vai diminuindo quando a classe social vai
baixando, chegando aos mais pobres, pois a essa altura tem muita pouca comida
na plataforma, (nível baixo). E mais abaixo ainda só há os pratos, sem nenhuma
comida representando a classe miserável que não possuem nenhum tipo de renda ou
moradia (nível muito baixo).
No filme, acompanhamos o personagem Goreng (Ivan Massagué) que vai parar
num nível intermediário (nível 48) juntamente com Trimagasi (Zorion Eguileor),
um senhor de idade que já estava preso há meses e já sabe o que acontece em
níveis muito baixos. Nessa primeira parte, vamos compreendendo junto com Goreng
o que é aquele lugar e o que ele pode trazer para ele nos dias que se seguem.
Um mês depois, eles vão parar em um nível muito baixo, onde a comida não chega
a eles. Pensando que podia racionar a comida, Goreng propõe ajudar os demais
presos, mas representando muito bem a sociedade egoísta que só pensa em si
mesmo, os presos pouco se importam se haverá pessoas embaixo que irão passar
fome durante um mês inteiro, nem considerando que no mês seguinte eles poderão
estar no lugar deles.
Isso me fez refletir sobre o que está acontecendo no mundo hoje nesse
ano de 2020. Acredito que não foi mera coincidência assistir a esse filme
justamente nessa época de pandemia que está assolando o mundo inteiro, onde as
pessoas se desesperam e compram mantimentos aos montes para manter em estoque,
enquanto outros (os mais pobres) não podem comprar o suficiente para suas
famílias. Além dessa crise por alimentos ou produtos higiênicos que servem de
prevenção à doença altamente contagiosa que assusta a todos, os mais pobres
sofrem com a falta de renda, uma vez que a maioria está impedida de trabalhar
devido aos decretos das autoridades que recomendam que todos se isolem a fim de
evitar mais contaminação.
Voltando ao filme O Poço, é
nítido perceber que as classes mais miseráveis em seus níveis extremamente
baixos, apelam para canibalismo. Embora o filme se proponha a correr atrás de
uma solução para o problema recorrente no poço, ele termina antes do previsto,
o que causou uma grande revolta de uma boa parte do público. Pra mim, esse foi
o único defeito do filme, mas levando em consideração sobre o que ele quis
retratar, acredito que a premissa foi cumprida de uma maneira incrível e
inovadora! Não é todo dia que vemos uma ideia original ser bem abordada, ainda
que tenha ficado sem desfecho.
O final foi ruim? Depende do que você encara como ruim. Pois se você
esperava um final conclusivo, sim ele foi ruim. Agora, se você percebeu que o
filme representou a sociedade dividida em classes e sua luta por sobrevivência
conforme suas circunstâncias permitam, e que não importa o que façamos para
mudar, sempre haverá um comendo mais que o outro, você deve ter entendido que o
filme não precisava de final conclusivo, embora seja justo exigir uma tentativa
de mudança, pelo menos ver como que a tal mudança seria encarada pelos
responsáveis pelo poço.
NOTA: 8/10
O filme está disponível na Netflix.
Veja o trailer no vídeo abaixo:
Está na minha lista para conferir.
ResponderExcluirAbraço