A partir dessa descoberta, o protagonista mergulha em uma investigação que o leva a confrontar não apenas sua descrença e dor pessoal pela perda da esposa, mas também o sentido de controle que o ser humano tenta impor ao desconhecido. A trama ganha força ao mostrar como ciência e fé se entrelaçam em um contexto de catástrofe global. Enquanto John tenta decifrar os últimos números da lista, que indicam um evento de proporções devastadoras, o filme se transforma em uma corrida contra o tempo, unindo o suspense racional ao terror existencial.
Um dos aspectos mais interessantes de Presságio é o equilíbrio que o diretor tenta construir entre a tensão científica e a simbologia religiosa. Em vários momentos, o filme sugere que a humanidade está sendo observada ou guiada por forças superiores, o que desperta reflexões sobre predestinação e livre-arbítrio. Essa ambiguidade é sustentada pela atmosfera sombria e pela fotografia fria, que reforçam o tom de mistério e isolamento do protagonista. A trilha sonora, composta por Marco Beltrami, colabora de forma eficaz ao criar um clima de crescente inquietação.
A atuação de Nicolas Cage é adequada, embora marcada por momentos de exagero emocional que já se tornaram característicos de sua carreira. Ainda assim, ele consegue transmitir o desespero de um homem que tenta proteger o filho enquanto lida com a iminência do fim. O elenco coadjuvante, em especial Rose Byrne, contribui para o equilíbrio dramático da história, mesmo que algumas motivações de seus personagens fiquem pouco desenvolvidas.
Do ponto de vista técnico, as cenas de desastre são bem executadas, especialmente considerando a época do lançamento. O acidente de avião e o descarrilamento do metrô são sequências visualmente impactantes e demonstram o cuidado da produção em criar realismo. Contudo, à medida que o filme se aproxima do final, a narrativa tende a perder a coerência lógica que sustentava o mistério inicial, caminhando para uma explicação de cunho metafísico que divide opiniões.
O desfecho, carregado de simbolismo, representa uma tentativa de reconciliação entre ciência e espiritualidade. Muitos espectadores o consideram ousado e poético; outros, excessivamente fantasioso. De qualquer forma, o final reforça a mensagem de que o conhecimento humano, por mais avançado que seja, ainda é pequeno diante da imensidão do universo e dos ciclos da vida e da morte.
Presságio é um filme que provoca mais pela ideia do que pela execução. Apesar de tropeçar em alguns momentos narrativos e adotar um desfecho controverso, ele se destaca por sua atmosfera tensa e por levantar questões filosóficas sobre o sentido da existência, o papel do acaso e a inevitabilidade do destino. É uma obra que convida o espectador a refletir — e talvez esse seja seu maior mérito: lembrar que, no fim, o verdadeiro presságio pode estar na própria condição humana de buscar respostas para o que não pode ser controlado.
NOTA: 8/10




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