O Homem que Desafiou o Diabo, dirigido por Moacyr Góes, é uma tentativa ousada de levar às telas o espírito do folclore e da literatura de cordel nordestina. Baseado no romance As Pelejas de Ojuara, de Nei Leandro de Castro, o filme promete uma jornada épica e divertida pelo sertão, mas nem sempre entrega o que poderia.
A
história segue Zé Araújo (Marcos Palmeira), um homem que, cansado de sua vida
submissa e insípida, abandona tudo para se transformar em Ojuara, um herói
andarilho que enfrenta desafios diversos, incluindo um embate simbólico contra
o próprio Diabo. Essa premissa interessante e rica em potencial sofre com uma
execução que alterna entre momentos inspirados e tropeços que comprometem a
fluidez da narrativa.
O
maior mérito do filme está na caracterização de seu protagonista. Marcos
Palmeira oferece uma atuação carismática, conseguindo equilibrar o humor e a
introspecção de Ojuara. No entanto, os personagens secundários são, em sua
maioria, reduzidos a caricaturas sem profundidade, servindo mais como
ferramentas para avançar o enredo do que como figuras memoráveis.
Visualmente,
o filme impressiona em alguns momentos. As paisagens do sertão brasileiro são
captadas de forma poética, trazendo uma dimensão quase mágica ao ambiente.
Contudo, a direção de arte e os efeitos especiais deixam a desejar em cenas
mais fantásticas, prejudicando o impacto de algumas sequências cruciais.
No
quesito roteiro, o filme oscila entre o cômico e o absurdo, mas muitas vezes
tropeça ao tentar integrar esses elementos em uma narrativa coesa. As cenas
parecem desconexas, como se o filme fosse uma colagem de episódios do livro original,
sem uma linha narrativa que sustente o desenvolvimento emocional de Ojuara ou
dê peso às suas aventuras.
Outro ponto é o humor, que, embora em alguns momentos seja inteligente e divertido, recorre frequentemente a estereótipos e exageros que beiram o clichê. Em vez de enriquecer o filme, essas escolhas criam um tom irregular que pode afastar o público mais exigente. No geral, O Homem que Desafiou o Diabo é uma obra que tenta capturar a essência do cordel e da cultura nordestina, mas carece de consistência narrativa e refinamento técnico para alcançar todo o seu potencial. É um filme que entretém em alguns momentos, mas deixa a sensação de que poderia ter sido muito mais. Recomendado para quem busca uma comédia despretensiosa.
NOTA: 5/10
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