segunda-feira, 30 de junho de 2025

SÉRIE: ROUND 6

Round 6 (Squid Game) é uma série sul-coreana de suspense, drama e crítica social criada e dirigida por Hwang Dong-hyuk. A trama acompanha 456 pessoas endividadas e desesperadas, convidadas a participar de uma misteriosa competição composta por jogos infantis com regras simples — mas consequências mortais. O vencedor leva um prêmio bilionário, enquanto os perdedores pagam com a própria vida.

À medida que os participantes enfrentam provas cada vez mais brutais, suas histórias de vida e motivações vêm à tona, revelando uma crítica contundente à desigualdade, à exploração humana e à lógica desumana do sistema capitalista. Em meio à violência e à tensão psicológica, surgem laços de amizade, traição e sacrifício, conduzindo o espectador por uma jornada tão emocionante quanto angustiante.

Atenção! Contém Spoilers

Temporada 1 – A violência como metáfora da desigualdade

A primeira temporada de Round 6, lançada em 2021, surpreendeu o mundo ao combinar uma premissa brutal com uma crítica social poderosa. A série sul-coreana, criada por Hwang Dong-hyuk, apresenta um universo onde pessoas endividadas e desesperadas aceitam participar de uma competição secreta de jogos infantis com consequências letais. Com uma estética marcante e uma tensão constante, a temporada logo se tornou um fenômeno global, ultrapassando barreiras linguísticas e culturais.

O protagonista, Seong Gi-hun, é introduzido como um homem falido, viciado em apostas e afastado da própria filha. À medida que os episódios avançam, o espectador mergulha em sua trajetória de transformação, cercada por outros personagens igualmente complexos: Sang-woo, o amigo de infância ambicioso; Sae-byeok, a desertora norte-coreana em busca de uma vida digna; Ali, o imigrante paquistanês explorado; e o enigmático Jogador 001. 

Cada um deles carrega histórias de dor, abandono e impotência diante de um sistema que os esmagou.A genialidade da série reside em usar jogos infantis simples — como "Batatinha Frita 1, 2, 3" — como metáforas da crueldade capitalista. O contraste entre a inocência dos jogos e a violência da execução expõe o quanto a sociedade moderna trata vidas humanas como peças descartáveis. A estética do cenário, com suas cores vibrantes e arquitetura surreal, remete a um parque de diversões distorcido, onde tudo parece infantil, mas nada é inocente. A direção aproveita essa dualidade para gerar inquietação constante.

Do ponto de vista narrativo, a temporada se desenvolve com ritmo equilibrado. Há momentos de pura tensão, como no jogo da ponte de vidro, e também de emoção profunda, como na partida das bolinhas de gude. A série sabe dosar crítica social e drama humano, sem perder a força simbólica. A revelação final sobre o criador do jogo, embora divisiva para alguns espectadores, encerra a temporada com uma reflexão amarga sobre o tédio dos privilegiados e a desumanização promovida pelo poder absoluto.

Em suma, a primeira temporada de Round 6 é uma obra provocativa e inovadora, que usa a violência não de forma gratuita, mas como espelho da realidade. Sua força reside na denúncia silenciosa das engrenagens sociais que obrigam os mais fracos a se destruírem pela promessa de sobrevivência. Com atuações marcantes, direção ousada e uma proposta estética singular, a série conquista não só pela brutalidade dos jogos, mas, sobretudo, pela profundidade de suas questões humanas e sociais.

Temporada 2 – A queda de um herói, o surgimento da resistência

A segunda temporada de Round 6, lançada em 2024, assume um tom mais sombrio e introspectivo, afastando-se do foco exclusivo nos jogos para explorar as consequências do sistema que os sustenta. Com Seong Gi-hun decidido a não fugir para os Estados Unidos e sim confrontar a organização por trás dos jogos, a série mergulha em uma trama de investigação, infiltração e resistência. A mudança narrativa é ousada, mas não agrada a todos os públicos.

Neste novo arco, vemos um Gi-hun transformado. Ele abandona sua postura passiva e assume uma figura quase messiânica, buscando expor a verdade sobre os jogos. Seu embate com o Front Man, In-ho, agora mais aprofundado, revela as contradições morais de ambos. A série também introduz novos personagens, como a hacker Hyun-ju e o informante Myung-gi, que enriquecem a trama com conflitos éticos e estratégicos. Em vez da tensão pura dos jogos, o foco passa a ser o confronto psicológico entre poder e resistência.

Embora ainda haja jogos nesta temporada, eles assumem um papel mais simbólico, com regras complexas e dilemas morais mais evidentes. A crítica social continua presente, mas agora ganha uma dimensão política mais direta: fala-se de manipulação de massas, vigilância, autoritarismo e o papel da mídia na construção da verdade. É um acerto temático que, no entanto, cobra um preço narrativo — o ritmo da temporada por vezes se torna arrastado, e a tensão visceral da primeira temporada cede lugar ao suspense mais reflexivo.

Apesar das críticas à estrutura mais lenta, a temporada é importante por expandir o universo da série. A origem dos jogos começa a ser delineada com mais clareza, revelando que o sistema é internacional, com versões em outros países e uma elite global que financia os eventos. Essa expansão narrativa abre caminho para novas possibilidades dentro da franquia, mas também exige mais do espectador, que agora precisa conectar várias camadas de enredo para compreender o todo.

No geral, a segunda temporada de Round 6 é uma ponte entre a brutalidade inicial e a crítica mais sistemática que viria depois. Embora menos impactante do que a primeira, ela é fundamental para desenvolver os arcos dos personagens e preparar o terreno para o desfecho. Ao transformar Gi-hun em um agente ativo da mudança e dar voz à resistência, a série reforça sua mensagem sobre a necessidade de romper com as engrenagens da opressão — mesmo quando o custo pessoal é alto.

Temporada 3 – O fim do jogo e o nascimento do legado

A terceira e última temporada de Round 6, lançada em junho de 2025, fecha a saga com uma combinação de tragédia, esperança e ousadia narrativa. Com apenas seis episódios, a temporada aposta em um tom mais emocional e simbólico, abandonando de vez a repetição estrutural dos jogos mortais para investir em um desfecho apoteótico. O resultado dividiu público e crítica, sendo aclamado por uns e duramente criticado por outros.

A temporada retoma a tensão entre Gi-hun e o sistema, agora com a presença da menina 222, uma criança envolvida nos bastidores dos jogos e que representa uma nova geração. A figura de Gi-hun, mais fragilizada e humana, é conduzida a um arco de sacrifício, onde compreende que a única maneira de romper com o ciclo de violência é proteger o futuro — ainda que isso custe sua vida. A construção do personagem atinge aqui sua forma mais madura e dolorosa.

O Front Man, por sua vez, ganha maior destaque e complexidade. Sua trajetória o coloca diante de dilemas sobre liderança, lealdade e arrependimento. Os bastidores da organização dos jogos são finalmente desvendados: os VIPs não são apenas milionários entediados, mas figuras políticas e empresariais globais que enxergam a miséria humana como espetáculo. A entrada de novos rostos, como a agente americana interpretada por Cate Blanchett, insinua uma possível continuação ou spin-off ocidental.

Esteticamente, a série mantém sua excelência. A fotografia escurece, os cenários se tornam mais claustrofóbicos, e a música evoca luto e desespero. As poucas dinâmicas de jogo que ainda aparecem servem como alegorias: são menos sobre sobrevivência e mais sobre escolha, culpa e perdão. A morte de Gi-hun no último episódio, embora polêmica, carrega uma carga simbólica intensa — ele não vence o sistema com violência, mas com um gesto de proteção e renúncia.

Encerrando com uma nota agridoce, a temporada final de Round 6 reafirma que o verdadeiro inimigo não são os outros jogadores, mas a estrutura que os coloca uns contra os outros. Ao preferir um final mais íntimo e reflexivo em vez de espetacular, a série reafirma sua proposta original: não é sobre quem sobrevive, mas sobre o que se está disposto a preservar. Apesar das críticas ao seu ritmo e à decisão de matar o protagonista, Round 6 se despede como uma obra corajosa e consciente de seu papel como crítica social em forma de entretenimento brutal. 

NOTA: 9/10

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