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sábado, 30 de dezembro de 2017

MÃE! (2017)


Esta será a última resenha publicada no blog nesse ano que está acabando. Aproveitando a ocasião, quero desejar a aqueles que nos visitam, um feliz 2018 com muita paz, saúde e sucesso!

Então, resolvi fechar o ano de 2017 falando sobre o filme mais polêmico do ano, e é assim que a maioria dos críticos e o público geral considera o filme Mother! do diretor Darren Aronofsky, conhecido por dirigir filmes complexos, como por exemplo o aclamado Cisne Negro. Mother! conhecido aqui no Brasil como Mãe! foi lançado em setembro de 2017 e causou uma enorme controvérsia entre o público, que em sua maioria saiu das salas de cinema com uma baita dor de cabeça, por que o filme é muito difícil de digerir assistindo uma única vez, no meu caso, eu precisei dar a segunda chance, por que na primeira eu não aprovei muito, mas depois de assisti-lo de novo, admito que o filme é insano, bem montado e repleto de situações loucas, porém, com um grande significado por trás.

O filme é estrelado por Jennifer Lawrence, Javier Bardem, Michelle Pfeiffer e Ed Harris. Até o momento, o longa foi selecionado para competir o Leão de Ouro no Festival internacional de Cinema de Veneza.

É difícil falar desse filme sem soltar algum spoiler, mas tentarei evitar ao máximo. Só posso adiantar é que se você curte cinema apenas por diversão, descontração ou algo parecido, fuja imediatamente de Mother! por que esse não é filme pra você! Além de ser extremamente complexo de entender as situações que ali acontecem, devemos ter em mente que nada, absolutamente nada do filme deve ser enxergado literalmente. Por que é essa a intenção do diretor, ele prefere usar alegorias e metáforas para representar a sua ideia, mas precisamente o filme tem a haver com acontecimentos retratados na Bíblia, e que a essência do filme se trata de como Darren Aronofsky enxerga o relato da criação e posteriormente o declínio da humanidade no pecado.

Não irei soltar spoilers, mas é necessário saber que Mother! é tudo uma alegoria, podemos suspeitar disso logo na primeira cena, que já é suficiente para acompanhar o filme com olhos simbólicos, e na última cena do filme, isso se confirma. Mas é compreensível que diante de tanto acontecimento maluco, perturbador e difíceis de entender seja impossível notar esse detalhe inicial e final logo de imediato.

Um resumo breve do filme se trata de um casal interpretado por Lawrence e Bardem, que vivem em uma casa isolada. A personagem de Lawrence que chamamos de mãe, acha que terá um final de semana perfeito com seu marido, mas inesperadas visitas chegam e começam a criar um clima descontrolado dentro da casa. É interessante notar que a câmera não sai de dentro da casa em hipótese alguma, exceto quando está na porta, mas filmar as partes externas do lado de fora, isso não acontece. Também tudo que vemos no filme é do ponto de vista da mãe, a câmera a acompanha o tempo todo e sempre dará um close no rosto dela expressando um grande incômodo que tudo o que acontece na casa, depois que chega as indesejáveis visitas. Mas, seu marido parece não se importar e abre as portas para todos, causando um sentimento de revolta da parte de sua esposa.

Porém, o filme passa dos limites ao mostrar uma cena chocante, perturbadora e brutal, que envolve um recém-nascido. A cena é tão perturbadora que você que assiste fica revoltado e ao mesmo tempo com náuseas! O diretor Aronofsky é muito ousado e não é atoa que este filme tenha causado tanta polêmica e tenha dado o que falar desde o seu lançamento. As explicações sobre o que o filme simboliza, pode ser visto com diferentes perspectivas, mas a maioria das pessoas prefere considerar uma alegoria bíblica, onde o marido representa Deus, a mãe representa a Mãe Natureza, o casal que os visita são Adão e Eva, os seus filhos são Caim e Abel e a multidão que começa a tomar de conta da casa representa a humanidade pecaminosa e enlouquecida, e o bebê acho que nem precisa dizer não é?

Mother! está sendo considerado por uma boa parte do público como o melhor filme do ano, esse não é o meu caso, mas devo afirmar que pela ousadia e a forma como o filme é montado, então não se trata de um filme ruim, muito pelo contrário. Admito que na primeira que assisti e não aprovei por que achei que o longa perdeu o controle da metade para o fim, e creio que você entende isso, por que realmente não é pra se agradar logo de imediato, e de fato não é um filme para qualquer um, em especial para aqueles que vão assistir e acha que se trata de uma aventura. Não, meus amigos, é preciso compreender o tema e como ele será feito. Mother! é um filme de terror, mas psicológico, e apenas pelo gênero, já podemos esperar algo perturbador. Não adianta detonar o filme se você não consegue distinguir o filme que te descontrai com aquele que faz seu cérebro derreter. Há diferentes alvos, pelos quais uma produção cinematográfica aponta, caso contrário, não haveria diferença de gêneros, concorda?

Recomendo o filme Mother! mas sinto a obrigação de falar que ele é só para os fortes, como mencionei no inicio, se este filme não faz seu tipo, fique bem longe dele. Mas se resolver encarar mesmo assim, sugiro que abra a mente e engula as situações e personagens simbolicamente, talvez assim possa digerir a mensagem e a ideia do diretor Darren Aronofsky. 

NOTA: 9/10

Veja o trailer no vídeo abaixo: 



Ah, mais uma vez, FELIZ ANO-NOVO A TODOS! 😊

quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

AO CAIR DA NOITE (2017)


Mesmo que na primeira vez saiamos decepcionados com algum filme que não cumpriu nossas expectativas, eu acho que é importante darmos uma segunda chance, caso nos depararmos com pessoas elogiando a produção. Por que eu estou dizendo isso? Por que existem filmes que a princípio, nós achamos que seria de um jeito, mas acabou sendo outro, assim causando grande frustação. Mas e se assistíssemos de novo, com uma nova ótica? Provavelmente, o resultado será diferente. Por exemplo, quando eu fui assistir pela primeira vez ao filme O Labirinto do Fauno, eu achava que iria assistir a um filme de terror, daqueles onde monstros iriam atacar ou algo do tipo, e adivinhem? Me decepcionei, por que eu esperava algo e não aconteceu. Mas aí eu dei uma segunda chance ao filme, já ciente de sua proposta. E o que aconteceu? Amei! Amei tanto que hoje ele é um dos meus preferidos.

Sei que não tem como comparar O Labirinto do Fauno com Ao Cair da Noite, filme no qual irei falar aqui, por que pra começo de conversa o filme de Del Toro é infinitamente melhor. Mas a comparação que fiz é pra ter uma ideia sobre as expectativas que temos antes de assistir alguma obra cinematográfica. Antes de ser lançado Ao Cair da Noite, o trailer do filme sugeria um filme de terror daqueles, além de conter um pôster bastante chamativo. Mas depois do público conferir, houve as decepções, mas é importante destacar que não foram todos. Houve pessoas que passaram a dizer que foi uma boa experiência, afinal se todo mundo passasse e detonar o filme, ai dar uma segunda chance a ele é algo que não arriscaríamos assim tão fácil, não é mesmo? Mas muitas pessoas, incluindo alguns críticos elogiaram, aí é a vez de você medir na balança a possibilidade de assistir ao filme mais uma vez com outros olhos.

Ao Cair da Noite foi lançado em junho de 2017, com a direção de Trey Edward Shults e protagonizado por Joel Edgerton, Christopher Ejogo, Kelvin Harrison Jr e Riley Keough. O filme nos traz  uma trama simples sobre uma família que vive na floresta se protegendo de uma epidemia mortal que havia dominado o planeta. E o quadro muda quando outra família aparece pedindo ajuda. Aqui iremos notar que se trata de um filme dramático, com doses de terror, mas o terror é psicológico, focado principalmente no medo dos personagens em acabar sendo atingido pela epidemia. Diversas cenas são tensas, principalmente quando a noite cai e o local na parte externa da casa fica isolado, e quando alguém precise sair, tem que usar máscaras. Mas o que vai valer o filme é o que vemos acontecer dentro da casa onde duas famílias convivem, mas não com tanta confiança um no outro.

Fica claro que não devemos esperar um terrorzão. O filme já começa com o clima de mistério, pois não explica as origens da epidemia, claro que isso é desnecessário em vista da proposta principal, se fosse pra desenvolver a causa da doença, o filme não começaria no momento em que ela já domina o planeta e focado apenas em uma única casa isolada por uma imensa floresta. Não há mais personagens além das duas famílias, o que contribuiu para o filme mais tenso e um tanto sufocante. Todavia, o roteiro peca por não desenvolvê-los, mesmo que fosse um pouquinho, que já dava pra se salvar. Assim não sabemos absolutamente nada sobre ninguém. Por esses motivos, devemos prestar atenção nas falas e situações de perigo que os rodeia.

Ao Cair da Noite ainda vai ao limite por mostrar a frieza do ser humano e até onde ele é capaz para se proteger. As cenas finais são chocantes, embora tenha terminado de uma forma vaga e causando algumas dúvidas a respeito do por que o filme termina assim. De modo geral, não é um filme ruim e muito menos decepcionante, mesmo que tenha ficado algumas coisas em aberto e sem explicação, o filme consegue cumprir seu propósito dentro do psicológico dos personagens, o medo que os rodeia e a questão da sobrevivência. De fato, não é um filme que agradará a todos. Mesmo assim, não adianta reclamarem e exigirem algo que não está dentro das intenções que o filme quer repassar, o caso do trailer ter sugerido algo diferente, pode ter sido feito com a intenção de pegar as pessoas de surpresa.

O fato é que Ao Cair da Noite é um terror psicológico bem montado dentro de sua premissa, e acerta em cheio para não cair em exageros, tal como uma grande parte do público esperou que acontecesse. Entretanto, não é um grande filme do gênero, além de alguns tropeços no roteiro, o filme é um pouco cansativo e arrastado, mas isso não significa que sua intenção que é limitada apenas no psicológico seja jogada fora, pelo contrário, a proposta do filme predomina até o fim. 

NOTA: 7,5/10

Veja o trailer no vídeo abaixo:

quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

DEUS DA CARNIFICINA


Roman Polanski escreveu e dirigiu Carnage, em português conhecido como Deus da Carnificina, baseado na peça teatral God of Carnage, cuja autora Yasmina Reza assina também o roteiro do filme. Lançado em 2012, o longa é quase que inteiramente filmado dentro de um apartamento, onde apenas quatro atores segura as pontas com brilhantes diálogos e situações de incômodo. O elenco é composto por veteranos de muito talento como Jodie Foster, Kate Winslet, Christoph Waltz e John C. Reilly.

Temos aqui um grande elenco que segura o filme inteiro dentro de um apartamento, com diálogos excelentes! É muito divertido ver a cada minuto que passa o circo pegar fogo entre os casais, em meio a situações cômicas e que beiram ao ridículo sem resolver nada do problema proposto por ambos. O desvio de assunto é inevitável quando as diferentes personalidades se chocam uma com a outra. A direção de Polanski manteve o ritmo e a estrutura narrativa é muito agradável diante de ótimas atuações.

Sinopse: O casal Nancy e Alan Cowan (Kate Winslet e Christoph Waltz) vai até a casa de Penélope (Jodie Foster) e Michael (Jonh C. Reilly) para discutir uma briga entre os filhos. Eles tentam resolver o assunto dentro das normas da educação e civilidade, mas, aos poucos, cada um perde o controle diante da situação, e a briga deles se torna pior que a briga dos filhos.

O pequeno elenco se sai muito bem com seus papéis, e surpreendentemente nenhum deles tem mais destaque que o outro, os quatro dividem igualmente as cenas de uma forma divertida e cheia de desavenças, que à medida que o filme corre até o final, a simples reunião de paz, se torna agora um lugar onde predomina xingamentos, agressões, ódio, cada um querendo se justificar devido às atitudes de seus filhos. É um filme que prendeu minha atenção, e o fato de ter praticamente só um set de filmagem, contribuindo até mesmo para um clima de sufoco, não percebi em nenhum momento algo cansativo, pelo contrário, queria saber até onde tudo aquilo iria terminar e de que forma seria isso. Deus da Carnificina é um filme agradável capaz de nos divertir diante de situações um tanto caóticas para ambos os personagens. O filme é uma crítica a sociedade que tenta se manter unida, mas sua máscara cai quando situações extremas são jogadas na mesa, e que funciona como combustível para uma explosão. Deus da Carnificina cumpre esse objetivo muito bem e ainda por cima com um tom cômico para agradar ainda mais o público.

A direção de Polanski é genial, e a forma em como ele consegue manter o clima divertido todo o tempo, apenas dentro das dependências do apartamento, é claro que para que isso funcionasse, o elenco teria de colaborar e muito. Por isso, a escolha dos atores não poderia ser melhor, todos eles são consagrados e de muito talento, o ponto forte do filme que mais me agradou foi os diálogos, uma verdadeira aula onde cada palavra é medida com sua posterior consequência, e isso funcionou tão bem que todas as vezes que o casal visitante tenta ir embora, alguma coisa que foi dita antes os fazia voltar de novo.

Jodie Foster nos encanta com sua atuação, o que é bem normal quando um papel é interpretado por ela, independente de qual seja. A personagem Penélope recebe as visitas muito bem e mesmo quando as diferenças entre eles são expostas, e a coisa começa a fugir do controle, Penélope tenta se controlar ao máximo que pode, sendo a última a ceder aos seus extintos de mãe e de dona da casa, tomando atitudes inesperadas, pois sua paciência tinha limite. Do mesmo modo em que seu marido Michael que a princípio estava quieto, começa depois a perder o controle com bebidas e juntamente com o marido visitante que irritava todos com conversas ao telefone.

Kate Winslet está deslumbrante! Sua personagem aqui reflete a de uma mãe que tenta defender seu filho quando outros o chamam de delinquente. O que mais contribui para a explosão no comportamento das mães é quando seu filho é xingado ou que toda a culpa pela confusão é dele. O filme não se preocupa em mostrar quem estar certo ou errado, embora na primeira cena, vemos o filho de Nancy e Alan dando uma paulada na cara do outro chegando a quebrar dois dentes da vítima, mas não sabemos o que gerou a briga, por que o filme não se importa em mostrar isso. O foco central está na chamada reunião de paz e conciliação, onde se manifesta de forma genial as diferenças entre as pessoas na sociedade, e o que pode resultar disso. Conforme já mencionado, a briga dos pais se torna muito pior que a briga dos garotos, e o fato de ninguém conseguir evitar a confusão já arranjada, torna-se claro que o ser humano adulto pode ser muito mais rude do que uma criança que ainda não aprendeu a medir as consequências de seus atos.

É interessante notar como os personagens são falsos um com o outro, expressando pelas costas sentimentos de raiva. Claro que em algumas ocasiões isso acontece para evitar confusão frente a frente, mas se as visitas não saíssem logo, isso iria acontecer mais cedo ou mais tarde. A personalidade agressiva muitas vezes se encontra oculta, e para desperta-lo, nada melhor do que provocações. E em Deus da Carnificina, isso é o que não falta. O filme nos permite ter uma ótica diferente naquele apartamento, é como se as pessoas que estavam lá fossem animais presos na jaula. A intenção de Polanski é alcançada com uma produção que por mais simples que seja ela é direta e acerta em cheio no ponto principal, sem perder o rumo no qual o filme deve seguir. 

NOTA: 8,5/10

Assista ao trailer no vídeo abaixo: 

terça-feira, 26 de dezembro de 2017

UM CONTRATEMPO


Sou um cara que ama filmes de suspense, em especial aqueles em que contém uma reviravolta pra deixar a pessoa boquiaberta. Conheço e aprecio diversos filmes assim como Psicose, Testemunha de Acusação, Os Outros, A Chave Mestra, O Sexto Sentido, Jogos Mortais, A Órfã, entre muitos outros. O cinema espanhol também não fica de fora dessa, após assistir Um Contratempo do diretor Oriol Paulo, fiquei abismado com um roteiro tão inteligente, bem conduzido e atuado. Uma trama extremamente interessante e que nos prende à tela durante seus 106 minutos de duração, sendo até mesmo considerado como uma alusão ao imortal mestre do suspense Alfred Hitchcock.

O filme foi lançado em 2017 nos cinemas e obteve uma recepção muito favorável do público. E por ser uma produção espanhola, algumas pessoas pode não se interessar logo de cara, mas em contrapartida depois de dar uma chance ao filme, sairá impressionado, não apenas pela qualidade técnica, mas pela fotografia, as atuações e a maneira como o filme se desenvolve, que abusa dos flashbacks ao contar os acontecimentos do filme, montando um gigantesco quebra-cabeça. A película é estrelada por Mario Casas, Ana Wagener, José Coronado e Bárbara Lennie.

Sinopse: Tudo está indo muito bem na vida de Adrian Doria (Mario Casas): seu negócio é um sucesso, sua família é linda e sua amante Laura (Bárbara Lennie) não tem problemas com o fato de manterem seu caso em segredo. Até o dia em que ele desperta num quarto de hotel, depois de ser atingido na cabeça, e encontra Laura morta no banheiro. Como o quarto está trancado por dentro, sem nenhuma maneira de entrar ou sair, ele é imediatamente acusado pelo crime, mas recorre à melhor advogada de defesa da Espanha, Virginia Goodman (Ana Wagener), para tentar reconstruir o que realmente aconteceu. É quando Doria confessa uma história terrível envolvendo um acidente e a morte de um jovem inocente.

Um Contratempo é uma trama repleta de grandes reviravoltas que surpreende a cada minuto, além de possuir um desfecho impressionante! A direção de Oriol Paulo é excelente, ele consegue construir através de teorias propostas pelos personagens um grande quebra-cabeça, que está cheio de mentiras camufladas e que até mesmo quem está dentro do filme terá de usar a inteligência para distinguir um relato verdadeiro de um falso. A ligação das cenas é bem sintonizada e isso se deve a um roteiro complexo, porém, muito bem elaborado. Cada peça do filme, mesmo as minúsculas são de grande importância e que contribuirá para cada reviravolta. Temos que prestar atenção também nos diálogos, movimentos e as situações pelo qual os personagens se veem inseridos. Para tudo há um propósito, e o roteiro não deixa passar quase nada.

As atuações de Mario Casas e Bárbara Lennie refletem muita frieza e determinação ao lidar com assuntos difíceis, mesmo quando eles estão sendo encurralados. Agora quem mais cativou foi à atriz Ana Wagener, interpretando a advogada de Adrian, seu jeito calmo e equilibrado se torna muito evidente quando ela passa a mostrar uma inteligência incrível! As atuações dela mostra o quão astuta foi, chegando a impressionar a cada segundo que passa. A trama envolvendo assassinato é mesclada com outro acontecimento que se desenvolve de acordo com o depoimento que o protagonista relata para a advogada, mas com alguns furos na história dele, o filme passa a nos mostrar através das palavras da advogada, as diferentes teorias do que tinha acontecido, como forma de montar um argumento em defesa de Adrian, mas com muitas mentiras sendo jogada na mesa, a premissa inicial vai aos poucos perdendo o foco, sem que percebamos, mas o clima de suspense e tensão só aumenta, causando grandes expectativas da parte de quem assiste.

Assim, quando começa com o assassinato no hotel, a página vira e se foca no acidente envolvendo um jovem, onde seus pais tentam desesperadamente saber o que aconteceu a ele. O filme de alguma forma chega a criticar a postura de pessoas ricas que se aproveitam do dinheiro para cobrir seus erros e afetando os mais carentes, e isso acontece sem que ninguém se importe. O que talvez possa corroborar para atos extremos, tal como em uma das teorias da advogada Virginia sugere. Ainda assim, quando o filme chega ao impactante e surpreendente desfecho, parece que fica algumas coisas em branco, só que mais nada poderia ser feito, pois se prestarmos mais atenção vamos ver Adrian confessando o crime em um determinado momento. (Obs: só percebi isso na terceira vez que assisti esse filme). 

O filme é difícil de entender? Não se você prestar a detida atenção, nos diálogos e os pequenos detalhes. Um Contratempo não é um filme complexo, por que ele nos explica os detalhes com muita naturalidade, sem se contradizer. Pois já vi algumas pessoas afirmarem que o filme se contradiz nos relatos, mas leve em conta que os relatos feitos pelos personagens vêm a partir da sua visão dos fatos, e como é um jogo de verdades e mentiras, isso não quer dizer que a primeira sugestão seja a verdadeira. Pois se trata de teorias. E aos poucos, o caso do assassinato no hotel se torna irrelevante, quando o foco passa a ser o jovem acidentado, e assim como Adrian havia participado ou até mesmo sendo o responsável pelo desaparecimento do jovem, o caso do hotel fica em segundo plano. Todavia, se resolvesse o caso do jovem, automaticamente o caso do hotel também fica resolvido. Logicamente o filme é cheio de perspectivas que fica a cargo do espectador.

Um Contratempo é um suspense de qualidade e autêntico, mergulhado em um clima de mistério diante de um caso intrigante, conduzido por um roteiro inteligente e recheado de reviravoltas. Dos filmes que assisti nesse ano de 2017, que por sinal, está acabando, Um Contratempo está entre os melhores que tive o prazer de acompanhar, pois fiquei maravilhado com o principal aspecto que torna o filme uma produção extremamente grandiosa: a manipulação das perspectivas através das falas. Isso é fácil de notar apenas nos minutos finais, onde a grande reviravolta se manifesta, é que iremos nos dar conta dos diálogos ditos lá no inicio, onde jamais iríamos imaginar que tal coisa poderia ser assim, isso me faz lembrar o clássico, O Sexto Sentido, mas aqui com um tema diferente e também muito bem encaixado. 

Nota 10/10


Assista o trailer no vídeo abaixo:

segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

ESQUECERAM DE MIM 2 - PERDIDO EM NOVA YORK


Em clima de natal, nada melhor do que falarmos de um filme divertido em que se passa nessa época. Conforme já publicamos anteriormente a resenha do primeiro filme Esqueceram de Mim, clique aqui para ler, hoje 25 de Dezembro de 2017, resolvi escrever uma breve resenha da continuação dessa história. Eu disse breve, por que não há muito que falar, já que o conteúdo de Esqueceram de Mim 2 é completamente idêntico ao filme anterior, apostando novamente com a mesma estrutura narrativa, com a diferença apenas na mudança de local e algumas piadas novas.

Esqueceram de Mim 2: Perdido Em Nova York foi dirigido por Chris Columbus e lançado em 1992, o filme apesar de ter praticamente a mesma história do anterior, é bastante divertido que quase não percebemos a similaridade, por que o que importa é se a comédia nos agradará, e isso o filme consegue facilmente. Novamente protagonizado por Macaulay Culkin, e ainda traz os mesmos atores do filme anterior como a dupla de ladrões Harry e Marv, interpretados por Joe Pesci e Daniel Stern respectivamente. Mas são incluídos novos personagens que são interpretados por Tim Curry e Brenda Fricker.


Sinopse: Kevin McCalister (Macaulay Culkin), e sua família estão planejando desta vez irem, de férias para passarem o Natal na Flórida. No Aeroporto, Kevin perde-se de toda a sua família, pais, irmãos, tios e primos e acaba parando em um avião que vai para Nova York. Kevin consegue arranjar um táxi que o leva para o Plaza Hotel, usa o cartão de crédito do pai, Peter, e aluga uma suíte. E Kevin torna-se amigo do proprietário de uma simpática loja de brinquedos e também de uma mulher sem abrigo que alimenta os pombos do parque. Quando Kevin descobre que os seus dois velhos inimigos do primeiro filme fugiram da prisão, Harry e Marv, ele descobriu também que, arquitetaram um plano para assaltar a loja de brinquedos na véspera de Natal, e Kevin faz planos para detê-los. Entretanto, quando a mãe de Kevin se apercebe que se esqueceram do filho, corre para Nova York à sua procura.

O diretor se preocupa em conduzir o filme de acordo com a narrativa do primeiro, nos levando a momentos engraçados e também por haver uma mudança de ambiente, Esqueceram de Mim 2 pode parecer mais atrativo para alguns, em especial quando o protagonista chega a Nova York e com bastante dinheiro em mãos, ele forja tudo para que pudesse ficar na melhor suíte, sendo tratado como um rei. É interessante perceber que a família de Kevin faz piadas com a situação um tanto caótica, que é ter o conhecimento de que uma criança está se virando sozinha na maior cidade do planeta. Mas essas piadas servem de descontração, nada mais que isso.


O toque dramático do filme alcança um bom nível, quando ele faz amizade com a senhora dos pombos, que assim como o homem da neve ajuda Kevin no primeiro filme, essa senhora, interpretada por Brenda Fricker, cumpre um papel importante em uma lição para o garoto aprender. O personagem de Macaulay Culkin parece estar bem mais maduro em relação ao ano anterior, por que o primeiro filme se passou no Natal anterior, e este filme é como se fosse um ano depois. E mesmo que a princípio a situação de Kevin pode ser vista na ótica de uma criança como algo atrativo e edificante, aos poucos vai perceber que a falta da família pode causar mais tristeza do que quando somos disciplinados por eles. Uma bela de uma reflexão, sem dúvidas...

Os dois ladrões que nutrem um espírito de vingança após novamente se cruzarem com Kevin, acabam piores do que antes. Pois as armadilhas do garoto contra eles são bem mais criativas e fatais. Mas, não pensemos que por serem fatais haverá cenas fortes, muito longe disso, a situação dos ladrões ao serem pegos é refletida com tanto humor que é capaz de nos fazer cair na gargalhada. Mas longe de fazer uma defesa contra atos violentos, Esqueceram de Mim 2 se importa em nos divertir, e com um clima de Natal, fica claro que assisti-lo com a família após uma ceia na noite especial, é sempre uma boa recomendação. 

NOTA: 8/10

Veja o trailer no vídeo abaixo:

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

O PAGADOR DE PROMESSAS (1962)


O Pagador de Promessas é até hoje o único filme brasileiro a conquistar a Palma de Ouro do Festival de Cannes na França, que é um dos mais importantes prêmios, além de ter sido indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Lançado em 1962, o filme foi escrito e dirigido por Anselmo Duarte e é baseado na peça teatral homônima de Dias Gomes. É um filme encantador e muito forte ao criticar diversos aspectos comuns do cotidiano, como religião, opressão, e ingenuidade das pessoas carentes. O filme é considerado um dos melhores filmes nacionais, e com razão. O longa é bastante atrativo com seu conteúdo, fotografia e os atores principais, dentre eles são: Leonardo Villar, Glória Menezes, Dionísio Azevedo e Geraldo Del Rey.


Sinopse: Zé do Burro (Leonardo Villar) e sua mulher Rosa (Glória Menezes) vivem em uma pequena propriedade a 42 quilômetros de Salvador. Um dia, o burro de estimação de Zé é atingido por um raio e ele acaba indo a um terreiro de candomblé, onde faz uma promessa a Santa Bárbara para salvar o animal. Com o restabelecimento do bicho, Zé põe-se a cumprir a promessa e doa a metade de seu sítio, para depois começar uma caminhada rumo a Salvador, carregando nas costas uma imensa cruz de madeira. Mas a jornada de Zé ainda se torna mais angustiante ao ver sua mulher se engraçar com o cafetão (Geraldo Del Rey) e principalmente ao encontrar a resistência ferrenha do padre Olavo (Dionísio Azevedo) a negar-lhe a entrada em sua igreja, pela razão de Zé haver feito sua promessa em um terreiro de macumba.

O que faz do filme ser até hoje admirado pelas pessoas não se limita apenas na sua premiação, mas na sua forte crítica ao conservadorismo dentro da Igreja Católica, e nos deixa margens para possíveis discussões sobre religião. Também no âmbito político e social, o filme critica o fato dos mais poderosos se aproveitarem da situação frágil de algumas pessoas. Outros, porém, usa a imagem de pessoas ingênuas e se aproveitando da situação, para provocar um caos contra as autoridades a respeito da reforma agrária, e assim chamar atenção para si mesmo como testemunha ocular do que estava ocorrendo, isso acontece no caso de um repórter sensacionalista que modifica os fatos, sabendo que não irão ser afetados já que a pessoa envolvida era ingênua e nada sabia sobre as consequências que iriam trazer com isso.


O interessante é que quando Zé começa a enfrentar a oposição do padre, pelos motivos já mencionados aqui, todos em Salvador, tentam se aproveitar do inocente e ingênuo Zé. Os praticantes de candomblé querem usá-lo como líder contra a discriminação que sofrem da Igreja, os jornais conforme já dito transformam a sua imagem de pagador de promessas para em um ato de revolução. Ainda por cima, Zé é traído pela esposa que cai nos encantos de outro homem, mas que depois se arrepende. E mesmo depois de saber, Zé se importa naquele momento principalmente, em cumprir a sua promessa, depois daria atenção aos seus demais problemas. E mesmo diante de inúmeros incentivos das pessoas que dizem que Santa Bárbara está feliz por ele ter andado sete léguas carregando a cruz, e ao chegar à Igreja já cumpriu toda a promessa, mas ele motivado pela fé e gratidão, quer cumprir a promessa até o fim, mostrando que a fé o cega diante de uma situação que havia chegado ao extremo e que ele não ia conseguir cumprir seu propósito tão facilmente.

A interpretação de Leonardo Villar é cativante! Ele consegue encarnar um homem fervoroso e honesto com aquilo que ele faz. Dionísio Azevedo como o padre Olavo é outro espetáculo à parte. Firme e convicto de que sua decisão em relação à promessa de Zé é a mais correta perante as diretrizes da Igreja, ele tenta até mesmo convencer ao pobre homem que sua promessa não foi correta e que ele deveria pedir perdão, e ao mesmo tempo ele se sente culpado por todo o alvoroço que estava acontecendo na frente de sua Igreja. Assim aquele típico conflito de consciência perdura nas expressões de ambos, tanto o padre como Zé, mas eles conseguem manter suas convicções opostas acesas.


A postura do padre Olavo é idêntica a de muitos religiosos que com uma fé cega em diretrizes e conjuntos de doutrinas, acreditam firmemente que está fazendo o certo, bloqueando a passagem de indivíduos que possuem a mesma convicção e fé que a dele. A forma em que o filme cutuca esse lado religioso é como se estivesse dando uma mensagem ao clero, que motivados pela ignorância sobre o candomblé agem como fundamentalistas ou até mesmo extremistas. E o modo como os habitantes de Salvador se aglomeram diante da Igreja, podemos notar que um simples ato ou ação, tem uma reação. Atraiu inúmeras pessoas, divididas em opiniões, sendo que sua maioria apoia a promessa de Zé. Com uma confusão grande arranjada onde até mesmo lutadores de capoeira se manifestam, a polícia teve que intervir, mas acaba terminando em uma tragédia. O final do filme é muito triste, mas ao mesmo tempo nos deixa uma reflexão final.

O Pagador de Promessas possui um tema muito importante e enquanto houver religiosos fundamentalistas ou pessoas que se deixam levar unicamente pela fé, o conteúdo desse filme sempre será atual. Sua crítica política e social, especificamente dentro do campo religioso é algo a se pensar e analisar. E mesmo que inicialmente aparenta ser um filme bestinha, somos maravilhados com o desenrolar da história, feito mediante atuações e diálogos brilhantes! A peça teatral fez muito sucesso, e é claro que com o cinema não seria diferente. A direção de Anselmo Duarte corrobora com a perspectiva de que tal promessa extrema, imitando até mesmo o mártir de Jesus Cristo, seria tão difícil quanto ter que lidar normalmente com uma traição, tudo motivado pela fé cega de pessoas ingênuas. 

NOTA: 10/10

Veja o trailer no vídeo abaixo:

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

O GAROTO (1921)


Há aproximadamente 100 anos atrás, o cinema não era tão popular como hoje, sendo mesmo uma das grandes novidades da época, mas sem os recursos e a tecnologia que temos hoje em dia. O até hoje aclamado Charles Chaplin era um dos principais nomes do cinema naquela época, onde suas obras se espalharam e conquistaram a satisfação do público geral. Mesmo sendo em um período conturbado, afetado por grandes guerras, Chaplin se dava ao trabalho de produzir algo engraçado que mantivessem um sorriso no rosto das pessoas. E isso de fato, ele consegue isso através de suas grandes produções até hoje lembradas como um tesouro antigo que vale a pena assistir quantas vezes for necessário.

Em 1921, Charles Chaplin dirigiu, escreveu e protagonizou aquele que seria considerado uma das suas melhores façanhas, O Garoto. Além de Charles Chaplin, o filme conta com os nomes de Jackie Coogan e Ena Purviance, o filme é uma comédia dramática que envolve o amor entre duas pessoas, para ser bem mais específico, se trata do amor que deve ter entre um pai e um filho, e como obstáculos tais como a pobreza faz com que a união de ambos deve prevalecer mesmo que para isso, alguns delitos sejam cometidos. Mas sem fazer nenhuma defesa a atitudes criminosas, O Garoto se importa unicamente em mostrar ao público o drama vivido por um menino abandonado que é criado por um homem pobre e sem trabalho, tudo conduzido de uma maneira divertida e dramática, que até mesmo fará os menos sensíveis se emocionar com as situações retratadas no filme.

Sinopse: Uma mãe solteira deixa um hospital de caridade com seu filho recém-nascido. Ela percebe que não pode dar para seu filho todo o cuidado que ele precisa assim ela prende um bilhete junto à criança, pedindo que quem o achar cuide e ame o seu bebê, e o deixa no banco de trás de um luxuoso carro. Entretanto, o veículo é roubado por dois ladrões, que, quando descobrem o menino, o abandonam no fundo de uma ruela. Sem saber de nada, um vagabundo faz seu passeio matinal e encontra a criança. Inicialmente, o homem quer se livrar dele, mas diversos fatores sempre o impedem e, gradativamente, ele passa a amá-lo, decidindo então criar o menino. Conforme os anos passam, o garoto e o vagabundo formam dupla para conseguir sustento, e juntos eles enfrentarão situações difíceis quando o governo tenta levar a criança para um orfanato. Ao mesmo tempo, sua verdadeira mãe, agora uma renomada cantora de ópera tenta reencontrar o filho, oferecendo uma recompensa a quem o achar.

Dito de maneira simples, o filme toca o coração dos pais, que são os únicos que sabem o que é o amor por um filho. O filme remete a essa perspectiva desde o inicio, e absolutamente nada tira esse pensamento, mesmo diante das situações engraçadas que o garoto e o vagabundo passam para conseguirem dinheiro e comida. Mesmo sendo alguém miserável, sem trabalho e sem nada, o personagem de Chaplin consegue demonstrar um afeto imenso para seu companheiro, e da mesma forma que o menino ama seu pai de criação, e mais parece que nada irá separá-los. São sequências ótimas que tornam o filme muito agradável de ver.

Misturando humor e tristeza em uma única trama, Charles Chaplin conduz o filme de forma impecável e sem vestígios de chatice. Por mais que algumas cenas nos emocionem, como quando os oficiais tentam arrancar o menino da casa do vagabundo e vemos seus pequenos braços esticados querendo voltar para aquele que passou a ser seu pai, de fato é uma cena muito triste e comovente, mas, ao mesmo tempo o filme não perde o grau humorístico que possui, mesmo diante de situações que são capazes de nos fazer chorar. Uma forma genial de mesclar duas situações opostas!

Também é importante mencionar o drama vivido pela mãe do garoto, que decide tomar uma decisão dolorosa para uma mãe. Não se trata aqui daqueles monstros que vemos nos noticiários, que abandonam uma criança sem mais nem menos dentro de um latão de lixo, longe disso! Os motivos pelo qual levam a mãe do garoto no filme a abandonar seu filho são devido as suas condições financeiras, e que sua esperança era que seu filho fosse cuidado por alguém que realmente possa suprir as mais importantes necessidades. Mas ainda assim, o sentimento de culpa a tortura até que ela decide tentar reencontrá-lo depois de muitos anos.

Uma lição de suma importância que eu particularmente, consegui enxergar nesse filme, é que mesmo que nós não tenhamos tantos recursos que possam suprir as necessidades de uma criança, o principal todos nós temos: o amor. Se você amar seu filho mesmo diante das dificuldades financeiras, seu filho crescerá com esse sentimento que é capaz de lidar até mesmo com a mais difícil situação. É claro que também o dinheiro é importante nisso, mas pensemos no caso do vagabundo, ele criou o garoto mesmo sem ter condições para isso. Seu afeto pelo menino foi o que realmente fez a diferença, o garoto cresceu amando seu pai adotivo que ao tentarem afastá-lo dele, é motivo suficiente para uma imensa tristeza e solidão. Portanto, o principal ingrediente para cuidar de uma criança é alimentando elas com amor.

O Garoto apesar de estar perto de fazer cem anos desde que foi lançado, é uma obra que não deve ser descartada em hipótese alguma! Mesmo que você não goste muito de filmes em preto e branco e ainda por cima mudo. O filme é uma relíquia super valiosa do cinema, que aborda assuntos de uma forma delicada e divertida. E assim como em outros filmes de Chaplin, aqui temos uma crítica social a respeito do orgulho e medo que as pessoas têm ao enfrentarem desafios e também seu foco central está no valor da família e como esta é importante na vida de uma pessoa, não importando a classe social, pois conforme já dito, onde tiver amor, há sim o prazer de viver. Enfim, O Garoto é um filme sentimental e ao mesmo tempo cômico, produzido e atuado com louvor, é claro que uma obra-prima como essa não pode ficar de fora da lista daqueles que amam o cinema. 

NOTA: 10/10

Assista ao filme completo no vídeo abaixo:


terça-feira, 19 de dezembro de 2017

OS OUTROS (2001)


Quando nós gostamos dos filmes de terror psicológico, nos lembramos de muitas obras de arte inesquecíveis, mas quando se trata de um terror fantasmagórico, um dos melhores filmes de horror psicológico em que abordam fantasmas que vem a mente, sem dúvida nenhuma é o clássico Os Outros, título original The Others, do diretor Alejandro Amenábar. Um filme que foi lançado em 2001, sendo capaz de arrancar aplausos do público e da crítica. Contendo uma história sombria, porém, aparentemente simples, o longa se passa dentro de uma casa de campo, local aonde irá se manifestar fantasmas para a família que ali vive. Estrelado por Nicole Kidman, Christopher Flanagan, Elaine Cassidy, Eric Sykes, Alakina Mann e James Bentley.

Sinopse: Durante a Segunda Guerra Mundial, Grace (Nicole Kidman) decide por se mudar, juntamente com seus dois filhos, para uma mansão isolada na ilha de Jersey, a fim de esperar que seu marido retorne da guerra. Como seus filhos possuem uma estranha doença que os impedem de receber diretamente a luz do sol, a casa onde vivem está sempre em total escuridão. Eles vivem sozinhos seguindo religiosamente certas regras, como nunca abrir uma porta sem fechar a anterior, mas quando eles contratam empregados para a casa, eles terminam quebrando estas regras, fazendo com que imprevisíveis consequências ocorram.


Os Outros contém uma trama bastante interessante e não é nenhum pouco previsível. Com um ponto de partida simples, em que uma família está em uma nova casa e novos empregados chegando, o longa aos poucos vai mostrando sua verdadeira face, quando as crianças começam a ter contato com a voz de outro menino que insiste que a casa é dele. A princípio, Grace se recusa a acreditar nas histórias dos filhos, e por ser uma mulher muito religiosa, o castigo das crianças consiste em ler a Bíblia ou fazer orações. Mas o mistério continua predominando, e Grace é aos poucos convencida de que sua casa está mal assombrada.

Como o filme é completamente mergulhado na escuridão, a única iluminação que temos são velas, pode parecer meio chato de se acompanhar, mas isso nos faz sentir mais nervosos ainda, como também os personagens que compõe o longa. A fotografia do filme é ótima, as atuações em especial da Nicole foram bem sucedidas e dificilmente conseguiremos notar alguma apelação desnecessária. A personagem Grace pode parecer também uma pessoa muito impaciente e cheia de regras, mas aos poucos compreendemos o porquê ela se comporta assim, ela está ansiosa pelo retorno do marido, e o fato de seus filhos possuírem uma doença em que deveriam evitar a luz do sol, é totalmente aceito e à medida que o filme se desenrola, nós criamos uma empatia pela protagonista. Nicole Kidman consegue segurar uma ótima performance, sendo esta uma das melhores de sua carreira.


A presença de seres sobrenaturais vai crescendo mais e mais, tornando a convivência entre família e empregados um verdadeiro incômodo. Mas o filme nos traz uma reviravolta muito surpreendente, que tem tudo a ver com a família de Grace, o que inclui a própria com os empregados de sua casa, e também a explicação sobre as aparições sobrenaturais, a reviravolta é capaz de nos deixar chocados e ao mesmo tempo em que o cérebro se derrete com tamanha surpresa, que podem até mesmo fazer com que a gente pule de tanta emoção ao ver um final digno para os fãs de suspense. Não vou mencionar a surpresa, por que para aqueles que ainda não assistiram a esse filme, iria se tratar de um spoiler dos grandes, portanto, quem ainda não viu e ninguém falou nada a respeito, assista e se surpreenda.

Os Outros é uma obra-prima sim, seu conteúdo é chocante, amedrontador e claustrofóbico. Dos filmes que foram lançados no inicio do século XXI, este está entre os dez melhores. Como já dito antes, não só a história é boa, mas as atuações, a direção e fotografia, que caminham lado a lado sem perder o rumo, tudo limitado apenas à casa de Grace e os locais ao redor dela. 

NOTA: 10/10

Veja o trailer no vídeo abaixo:

sábado, 16 de dezembro de 2017

CAPITÃES DA AREIA


Capitães da Areia é um filme brasileiro lançado em 2011 dirigido por Cecília Amado, o filme é baseado no livro escrito por Jorge Amado, que contém o mesmo título. O filme aborda a vida de meninos abandonados que viviam em um trapiche na década de 1930. Os meninos eram liderados por um chamado Pedro Bala, e eles praticavam assaltos na cidade de Salvador. O filme é estrelado por Jean Luis Amorim, Ana Graciela, Robério Lima, Paulo Abade e Israel Gouvêa. Uma curiosidade interessante é que Cecília Amado é neta do autor do livro, sendo então a estreia dela como diretora, e conseguiu de certa forma cumprir seu trabalho de forma digna, nos dando uma crítica política e social sobre crianças de rua.

No começo do filme, já nos deparamos com crianças atrevidas e mal educadas, praticando furtos e ainda por cima, usando um linguajar nada comum para menores. No decorrer do filme iremos entender um pouco sobre a vida dessas crianças. Na realidade, esses furtos são o único jeito que elas encontram para sobreviverem, pois o governo não tomavam atitudes quanto à educação que eles poderiam ter, deixando-os viverem nas ruas e não se importando se eles roubam ou não. O filme critica o fato das autoridades acreditarem que não há remédio que cure essas crianças do vandalismo, e que nunca elas seriam cidadãos normais. Mas, ao mesmo tempo, a polícia os tortura, como por exemplo, ao pegarem Pedro Bala (Jean Luis Amorim) o líder dos capitães de areia, ele passa vários dias sem água e comida, e ainda sendo torturado.

Por motivos óbvios, os capitães de areia roubam para sobreviver. As características de cada um condizem com aquilo que poderíamos chamar de grupo unido e esperto. Um deles sabe ler e desenhar, outro sabe arquitetar planos e outros são valentes a ponto de enfrentar um adulto. E para completar, eles lutam capoeira, que os ajudam muito no decorrer do filme, sejam para se livrar da polícia ou para lutar com gangues rivais. Também o lado emocional deles é claro de ser facilmente enxergado, pois eles são companheiros um do outro, ajudam uns aos outros, mesmo que algumas vezes alguém saia magoado.

A trama por mais simples que seja traz uma dinâmica boa sobre os personagens. Principalmente quando uma garota chamada Dora (Ana Graciela) e seu irmão se juntam ao grupo depois de ficarem órfãos e sem casa. A princípio por haver uma garota no meio de um bando de meninos, em grande parte deles que nutriam pensamentos pervertidos ao verem uma menina, achando que todas eram putas e que o homem poderia fazer aquilo que quisesse. Uma crítica contra machismo? De certo modo sim, pois como nenhuma daquelas crianças tinha educação, os pensamentos errados eram inevitáveis diante de uma sociedade que não pensam no próximo, ainda mais por ser baseado em uma época em que as mulheres, em uma grande parte eram tratadas como objeto.

Mesmo com toda crítica politica e social a respeito do abandono e a falta de oportunidade de se reintegrar à sociedade, que fora feita de maneira esplêndida, o filme ainda não está desprovido de defeitos no roteiro. Um exemplo é o irmão de Dora, que entra no grupo junto com a irmã, mas acaba sendo esquecido no resto do filme, aparecendo apenas nas últimas cenas, uma vez que nesse intervalo de tempo acontecem inúmeras situações que colocariam à prova o amor entre irmãos, que deveria ter se manifestado, mas o filme resolve deixar isso de lado. A trilha sonora às vezes chega a exagerar, atrapalhando a narrativa em momentos importantes. E por mais que o filme contenha uma mensagem interessante e necessária para a sociedade, ele peca feio nestes e outros aspectos.

Capitães da Areia reflete os sentimentos de alguém que não recebem o amor e carinho que deveriam. E se nada o ajuda, a única opção que resta é a criminalidade, e isso não é culpa deles, e sim das autoridades que os esquecem, como se não valessem nada. O filme ainda retrata uma época em que a Varíola era uma epidemia muito temida e que tinha tirado a vida de muitos, o que inclui algumas das crianças que perderam seus pais e acabaram ficando sem nada e nem ninguém. E embora o filme retrate uma época bastante antiga, ele se torna muito atual devido a assuntos que merecem ser discutidos, sejam os tratos que o governo tem para com jovens delinquentes e também a questão da maioridade penal. Enfim, é um filme que mesmo que não agrade muito, deve ser visto e refletido. 

NOTA: 6/10

Veja o trailer no vídeo abaixo: