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segunda-feira, 23 de março de 2020

O POÇO (2020)


Um dos filmes que está gerando inúmeras discussões e debates nesses dias de quarentena é o filme espanhol O Poço, lançado na Netflix no dia 18 de março de 2020. O filme trouxe uma série de questionamentos sobre classes sociais e a diferença que há entre ambas no que se refere ao alimento adquirido. O filme foi dirigido por Galder Gaztelu-Urrutia e é estrelado por Ivan Massagué, Alexandra Masangkay, Emilio Buale e Zorion Eguileor. 

Sinopse: Dentro de um sistema prisional vertical, os presos são designados para um determinado nível e forçados a racionar alimentos a partir de uma plataforma que se move entre os andares. O Poço é uma alegoria social sobre a humanidade em sua forma mais sombria e faminta.


Muitos de nós já ouvimos falar em pirâmide social, e este filme é basicamente uma representação dessa pirâmide. O poço é uma prisão dividida em níveis na forma vertical, onde o mais alto corresponde ao nível 0 e o mais baixo vai além do número 300. Em cada nível há dois detentos, mas todos os meses eles são trocados, podendo acordar em um nível alto ou em um nível muito baixo. A mensagem que o filme tenta repassar é a importância da solidariedade do ser humano com o seu próximo.

Todos os dias, uma plataforma desce os níveis um de cada vez, trazendo um grande banquete de alimento para que os presos possam comer. No entanto, eles só podem desfrutar da comida no momento em que a plataforma estiver parada no nível deles, se tentarem guardar alguma coisa, inexplicavelmente a prisão pode aumentar ou baixar muito a temperatura, podendo inclusive matar os detentos. O interessante é que nos níveis mais altos, a comida pode ser desfrutada muito bem, há farturas e uma grande variedade de alimentos. Porém, à medida que a plataforma desce a comida vai diminuindo, e em níveis muito baixos, não sobra absolutamente nada.


A ideia é que se cada um comer nas porções certas, apenas uma pequena quantidade para o dia, todos os níveis teriam o suficiente para sobreviver, mas não é o que acontece. Isso simboliza muito bem a divisão de classes em nossa sociedade, onde os ricos (nível alto) podem usufruir o que quiserem, e descendo os níveis a variedade de alimento vai diminuindo quando a classe social vai baixando, chegando aos mais pobres, pois a essa altura tem muita pouca comida na plataforma, (nível baixo). E mais abaixo ainda só há os pratos, sem nenhuma comida representando a classe miserável que não possuem nenhum tipo de renda ou moradia (nível muito baixo).

No filme, acompanhamos o personagem Goreng (Ivan Massagué) que vai parar num nível intermediário (nível 48) juntamente com Trimagasi (Zorion Eguileor), um senhor de idade que já estava preso há meses e já sabe o que acontece em níveis muito baixos. Nessa primeira parte, vamos compreendendo junto com Goreng o que é aquele lugar e o que ele pode trazer para ele nos dias que se seguem. Um mês depois, eles vão parar em um nível muito baixo, onde a comida não chega a eles. Pensando que podia racionar a comida, Goreng propõe ajudar os demais presos, mas representando muito bem a sociedade egoísta que só pensa em si mesmo, os presos pouco se importam se haverá pessoas embaixo que irão passar fome durante um mês inteiro, nem considerando que no mês seguinte eles poderão estar no lugar deles.


Isso me fez refletir sobre o que está acontecendo no mundo hoje nesse ano de 2020. Acredito que não foi mera coincidência assistir a esse filme justamente nessa época de pandemia que está assolando o mundo inteiro, onde as pessoas se desesperam e compram mantimentos aos montes para manter em estoque, enquanto outros (os mais pobres) não podem comprar o suficiente para suas famílias. Além dessa crise por alimentos ou produtos higiênicos que servem de prevenção à doença altamente contagiosa que assusta a todos, os mais pobres sofrem com a falta de renda, uma vez que a maioria está impedida de trabalhar devido aos decretos das autoridades que recomendam que todos se isolem a fim de evitar mais contaminação.

Voltando ao filme O Poço, é nítido perceber que as classes mais miseráveis em seus níveis extremamente baixos, apelam para canibalismo. Embora o filme se proponha a correr atrás de uma solução para o problema recorrente no poço, ele termina antes do previsto, o que causou uma grande revolta de uma boa parte do público. Pra mim, esse foi o único defeito do filme, mas levando em consideração sobre o que ele quis retratar, acredito que a premissa foi cumprida de uma maneira incrível e inovadora! Não é todo dia que vemos uma ideia original ser bem abordada, ainda que tenha ficado sem desfecho.

O final foi ruim? Depende do que você encara como ruim. Pois se você esperava um final conclusivo, sim ele foi ruim. Agora, se você percebeu que o filme representou a sociedade dividida em classes e sua luta por sobrevivência conforme suas circunstâncias permitam, e que não importa o que façamos para mudar, sempre haverá um comendo mais que o outro, você deve ter entendido que o filme não precisava de final conclusivo, embora seja justo exigir uma tentativa de mudança, pelo menos ver como que a tal mudança seria encarada pelos responsáveis pelo poço. 

NOTA: 8/10

O filme está disponível na Netflix.

Veja o trailer no vídeo abaixo:

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