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sábado, 21 de julho de 2018

OKJA


O cineasta sul-coreano Bong Joon-ho que dirigiu o ótimo filme Memórias de um Assassino (2003), veio em parceria com estúdios americanos e dirigiu o filme Okja que foi lançado em 2017 e obteve uma ótima recepção do público e da crítica. Essa coprodução dos Estados Unidos com a Coréia do Sul fez um brilhante trabalho e contou com a participação de um elenco carismático e cheio de talento como Paul Dano, Jake Gyllenhaal, Lily Collins e Tilda Swinton.
Mas, em minha opinião quem rouba a cena é a atriz mirim Ahn Seo-hyun que é a protagonista da história juntamente com sua porca de estimação cujo nome é o título do filme.

Bem, antes de comentar o que se passa nesse filme, eu gostaria de contar que o impacto que essa trama me causou foi de uma grandeza tão grande que chegou a me tirar o sono. Por que todos os dias, com exceção das segundas e quartas, eu assisto a um filme diferente a partir das 22 horas, é o meu horário nobre como cinéfilo. E sexta-feira (20/07/2018) o filme Okja é o que eu havia selecionado para esse dia. Eu não gosto de pesquisar o assunto do filme antes de assistir, apenas a sinopse, por que eu gosto de me envolver naturalmente na história, independente do que traga. Portanto, o conteúdo de Okja me pegou de surpresa, embora determinados momentos do filme tenha sido mais que previsível.


Esse filme me fez refletir durante vários minutos, não sei se chegou a durar horas, mas acho que só peguei no sono depois das duas da manhã. No que eu pensava? No sofrimento que os animais passam nos abatedouros todos os dias, fico pensando na granja de galinhas, onde todas ali, sem saber estão aguardando a hora da morte. O gado que é criado em fazendas sendo torturados a ferro quente e consequentemente a maioria deles, se não for todos, vão sendo mortos e servidos para o consumo humano. E o que tem por trás disso tudo? Dinheiro. O homem lucra e obtém o próprio sustento sem nem mesmo pensar no que os animais sentem. Quem são os irracionais nessa história toda?

Chega a ser irônico ou pode parecer hipocrisia de minha parte ter que falar isso, por que eu sou um consumidor de carne de origem animal, tenho plena consciência de que animais são sacrificados todos os dias para o nosso consumo. O caso em questão é que eu mesmo não paro para pensar no sofrimento que muitos deles passam, por que há sim casos em que os animais são torturados, como é mostrado no filme e quando alguém que não come carne vinha me falar isso, entra por um ouvido e sai pelo outro. Mas, o filme Okja me deixou com um pé atrás nesse assunto. Não estou dizendo que a partir de agora irei me tornar vegetariano, mas essa possibilidade é algo que eu terei que pensar para o futuro. Além do mais, eu gosto dos animais, sei que eles possuem sentimentos tal como nós temos, eles sentem dor como nós sentimos, a diferença é que eles não pensam apenas em si. Essa é a principal questão.

Então, vamos ao filme. Na trama, Lucy Mirando (Tilda Swinton) anuncia que sua empresa descobriu uma nova espécie de animais, porcos gigantes e ecológicos que segundo eles, poderiam resolver os problemas de alimentos a nível mundial. E para conquistar a aceitação popular, ela cria uma competição onde vinte e seis desses leitões são distribuídos a fazendeiros familiares ao redor do mundo, e dez anos depois o animal que melhor se desenvolver será apresentado ao público em um evento na cidade de Nova York. E um dos escolhidos é um fazendeiro que vive na Coreia, cuja neta Mikha (Seo-Hyun Ahn) é muito apegada com o animal, a quem ela chama de Okja. Quando os encarregados do concurso aparecem para levar o animal, a pequena Mikha fará o possível para recuperá-la.


O filme começa de uma forma simples e com algumas cenas cômicas, que claro dará um contraste enorme com o que viria a seguir. Alguns personagens que representam a empresa de Mirando são uns completos bobos da corte, como por exemplo, o ótimo ator Jake Gyllenhaal que interpreta um apresentador extremamente irritante, que dava vontade de tapar os ouvidos toda vez que ele falava. O que eu gostei mais nessa primeira parte foi ver o quanto a vida de Okja e Mikha foi bem desenvolvida e retratada com tamanha precisão. É digna de nota a cena em que o animal salva a vida da menina quando esta quase cai de um penhasco. Torna-se claro a amizade que ambos nutriam um pelo outro. E isso é fato, os animais se apegam a aqueles com quem convivem.

Quando o filme caminha da metade para o final, toda sensação cômica é completamente esquecida. Okja critica duramente os maus-tratos aos animais, o comércio a custa da vida desses seres e a ganancia inescrupulosa do ser humano. As cenas que mostram a forma cruel com que os animais são tratados nos abatedouros incomodam muito! São pesadas o bastante para que alguém que ama comer carne desses animais, pare um pouco para refletir. Claro que o filme não induz o espectador a se tornar vegetariano da noite para o dia, mas o faz pensar bastante nessa possibilidade. Inclusive fiquei sabendo que muitas pessoas se tornaram após assistir Okja.

E mesmo que Okja critique a questão de matar animais para o próprio consumo, ele não está indiciando uma mudança nesse aspecto. Mas, acima de qualquer uma dessas críticas, temos a questão da verdadeira amizade entre um ser humano e um animal. O drama em sua essência é bastante eficaz por mostrar que embora a ganancia esteja longe de ser contida, existem seres humanos que se colocam no lugar dos animais, não querem em hipótese alguma usufruir de algo que foi tirado à custa do sofrimento desses seres vivos e consequentemente a sua morte. Isso realmente dar o que pensar, e não é atoa que fiquei até tarde da madrugada apenas pensando em como nós somos cruéis com os animais, se nosso organismo pode muito bem sobreviver com outros tipos de alimentos.


Mas, indo mais a fundo, o filme critica mais ainda, muito mais do que o simples fato de consumir carne animal, é a forma como isso é feito e como submetem os animais a terríveis torturas, antes de abatê-los. Tem uma cena que será difícil de esquecer: quando Okja e Mikha passam por um lugar semelhante aos campos de concentração, onde lá dentro diversos porcos como a Okja estão presos e sem poder fugir e um deles era um filhote que é salvo por um dos animais presos, possivelmente sua mãe, para que possa fugir junto com Mikha e Okja. É uma cena comovente demais da qual não consegui conter as lágrimas!

No entanto, eu não recomendaria esse filme para os cidadãos que tiram o seu sustento com esse tipo de trabalho, que é abater os animais e comercializá-los. Alguns podem se sentir incomodados quanto a isso. Particularmente, eu não quero fazer nenhum tipo de revolução contra o comércio de carne animal, compreendo que muitas famílias dependem disso. Portanto, só há uma coisa que eu quero dizer para finalizar esse texto: querem abater os animais para o seu consumo? Faça. Mas, por favor, não os torturem! 

NOTA: 8/10

Veja o trailer no vídeo abaixo:

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