quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

INFÂMIA (1961)


Que poder tem a mentira? Qual o tamanho da consequência gerada a partir de um boato falso? Foram essas as perguntas que fiz a mim mesmo, após assistir ao filme Infâmia, título original The Children’s Hour de 1961, dirigido pelo cineasta William Wyler. O filme é baseado na peça teatral homônima de Lillian Hellman, que inclusive já havia sido adaptada para o cinema em 1936 com a mesma direção de Wyler, só que o conteúdo envolvendo homossexualidade e lesbianismo foi retirado do roteiro, e mesmo assim causou polêmica. Na década de 60, isso mudou em Hollywood, o que fez com que Wyler realizasse o filme novamente, só que dessa vez seria fiel à peça teatral.

Infâmia foi indicado a cinco Oscar, e obteve um tremendo sucesso tanto na crítica quanto no público, mesmo quando seu conteúdo para a época era algo muito polêmico e que a maioria das pessoas estranhavam. O filme é estrelado por Audrey Hepburn (dona de um dos rostos mais lindos que já vi no cinema clássico), e Shirley MacLaine (em sua melhor performance na carreira). As duas interpretam as professoras Karen Wright e Martha Dobie respectivamente, que juntas dirigem uma instituição escolar para meninas. Karen está para se casar com o médico Joe (James Garner) e seu relacionamento com ele causa certo desconforto em Martha que de alguma forma sente ciúmes da amiga.


Dentre as crianças que estudam na instituição, somos apresentados a Mary (Karen Balkin), uma menina rebelde, problemática, manipuladora e mimada, que por conta de seu comportamento delinquente vive sendo castigada pelas professoras. A garota não mede as palavras e chega até mesmo a dizer que ela é odiada pelas duas, e após ser pega em uma mentira e ser novamente castigada, ela decide se vingar das professoras contando para sua avó Amelie (Fay Bainter) que as duas mantêm um relacionamento anormal, que a avó logo conclui que se trata de lesbianismo. O resultado deste boato culmina na falência da escola, quando Amelie, rica e poderosa na cidade, comunica a todos os pais das meninas, que imediatamente tiram suas filhas da instituição, com o medo de que o comportamento considerado anormal influencie as crianças.

E para piorar, quando Karen e Martha vão em busca de respostas para tudo aquilo que estava acontecendo, elas se deparam com a mentira de Mary, que é resultado de um mal entendido envolvendo a tia de Martha, Lily Mortar (Miriam Hopkins) que falava demais, e através de uma simples fala envolvendo Karen e Martha resulta na mentira contada pela garota. A atuação de Karen Balkin reflete uma menina que é o completo demônio, que diferente por exemplo, de Klara do filme A Caça (2012) que espalhou uma mentira devido a sua inocência como criança, Mary é ciente das mentiras, é calculista e cria toda a história, até mesmo se aproveitando de um delito cometido por outra garota para chantageá-la a confirmar o boato. Sim, Mary é uma espécie de encarnação do Mal, seja nas suas mentiras ou até mesmo em sua expressão facial. Quem viu o filme, com certeza deve ter odiado essa menina com todas as forças!


A vida das professoras vira um inferno quando tudo e todos se voltam contra elas, e mesmo com um processo por difamação, elas perdem por que a única pessoa capaz de esclarecer o mal entendido não compareceu à audiência. Quem é essa infeliz? Nada mais, nada menos do que a tia papagaio de Martha, que só retorna quando precisa de dinheiro, para a completa revolta das professoras e também do espectador claro. Juro que fiquei com ódio de Mary e também dessa tia Lily Mortar.

Mas há algo na história que o diretor resolve ir mais a fundo, explorando sentimentos suspeitos no decorrer do longa. Quando chega ao clímax do filme, no meio do desespero e sentimento de culpa, vem à tona a revelação de que o boato era verdadeiro em partes. E depois de todo o alvoroço causado, há mais consequências por vir, só que desta vez piores do que as de antes. O desfecho foi para mim, um soco no estômago!


Infâmia é um filme muito ousado para sua época, e mesmo hoje onde existe uma aceitação melhor do relacionamento homossexual, claro que o preconceito ainda existe, mas em comparação com a década de 60, não há como negar a ousadia do filme. Imagine as pessoas da época que não eram acostumadas com situações do tipo. De fato, isso ainda dar o que falar. Mas o que o filme de modo geral nos ensina? Eu aprendi que as consequências de um boato podem ser devastadoras para os envolvidos, mesmo que há algo verdadeiro no meio. O efeito dominó que vem após uma série de preconceitos com determinada atitude reflete de maneira impecável a realidade que nos rodeia. Hoje em dia, os homossexuais infelizmente ainda sofrem um terrível preconceito com seu estilo de vida, mas ao contrário da década de 60 e de 30 principalmente que era a época onde a peça original foi feita, não existia grupos de apoio e nem leis que os protegiam, os envolvidos teriam de lutar sozinhos, se é que podiam.

Recomendo muito o filme Infâmia, que é bem estruturado em sua narrativa que não se perde e não acrescenta nada desnecessário, a força dramática do filme é poderosíssima, capaz de nos fazer ficar grudados e sentir a dor dos personagens. Além disso, a fotografia é um espetáculo à parte e as atuações são formidáveis, principalmente de Audrey e Shirley, que nos cativa com suas interpretações impecáveis e dignas de serem vistas e admiradas. Também é importante elogiar o trabalho do diretor William Wyler, que sabia da importância desse filme, e após ter a mudança em relação a assuntos envolvendo pessoas do mesmo sexo, ele trouxe mais uma vez o filme baseado na polêmica peça da década de 30. Simplesmente genial! 

NOTA: 8,6/10

Assista ao trailer no vídeo abaixo:

4 comentários:

  1. Duas atrizes máximas juntas, só isso ja seria algo muito legal. òtima dica, vamos procurar amigo!!!!!

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  2. Uma grande perola do cinema. Assisti no telecine faz tempo, mas queria rever. Onde posso conseguir esse filme na internet?

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